sexta-feira, 1 de março de 2013

Répteis - Dois em um



Foi já no mês de Outubro que, no final de mais um dia de campo, me deparei com um acontecimento que nunca antes tinha testemunhado. Pelo menos não com estas duas espécies…
No meio do caminho estavam duas espécies de répteis que, à primeira vista, pareciam estar tranquilamente a apanhar os últimos raios de sol desse dia. Nesse momento não tinha a noção de que algo de muito mais “interactivo” estaria para acontecer.
Vamos conhecer os protagonistas. De um lado estava um sardão Timon lepidus a maior espécie de lagarto da península ibérica que, segundo alguma bibliografia, pode atingir os 80cm (a cauda pode ser bastante grande). Esta espécie prefere habitats com alguma vegetação arbustiva com boa exposição solar e alimenta-se maioritariamente de insectos como escaravelhos ou gafanhotos. O indivíduo que tinha à minha frente tinha um pouco mais de 20 centímetros e parecia bastante descontraído a apanhar sol.


Um pouco mais ao lado, no meio do caminho estava uma cobra-de-ferradura Hemorrhois hippocrepis. Esta espécie também pode atingir grandes dimensões e tem fama de ser um pouco agressiva para com os seus captores (não se pode censurar!). A cobra-de-ferradura apresenta uma coloração característica com vários círculos escuros delimitados por uma banda mais clara, embora este exemplar não apresentasse a coloração mais típica. É uma espécie não venenosa e que se alimenta de aves e répteis que procura activamente usando a sua agilidade e rapidez. 


Alguns já imaginam o que se passou a seguir…
Ora nem mais, eis que a cobra-de-ferradura se aproxima do impávido e sereno sardão e abre as hostilidades com uma "mordidela" na cabeça. 


Na altura, e não conhecendo bem as capacidades de deglutição desta cobra, pareceu-me que ela tinha “mais olhos que barriga” já que o sardão me parecia demasiado grande para que ela o pudesse comer. Dentro de alguns minutos percebi que estava enganado, o sardão tinha o tamanho ideal para uma boa refeição antes do período de hibernação. Após a primeira “trinca” a cobra já não voltou a largar o lagarto e começou imediatamente a ingerir a sua presa que, até então tinha dado pouca luta. Fiquei impressionado com a capacidade da cobra deslocar as mandíbulas e conseguir engolir uma presa tão grande.


 Já demasiado tarde o sardão se terá apercebido de que a cobra não tinha “boas intenções” já que só começou a debater-se já a refeição ia a meio. 


Ainda tentou usar os seus poderosos membros posteriores para se livrar de ser comido mas sem sucesso, a cobra-de-ferradura só pareceu ter alguma dificuldade quando chegou a vez de engolir os membros anteriores onde o volume corporal do lagarto é um pouco maior. 


Com a refeição terminada, as mandíbulas reposicionadas, com um grande volume no estômago (só me fazia lembrar a serpente do “Principezinho”) e com o dia a terminar lá foi a cobra encontrar um local para pernoitar ou quem sabe passar o inverno.

4 comentários:

Paulo Barros disse...

Fantástico!

Ana Rita Gonçalves disse...

Surpreendente..
.

Luís Braz disse...

Que sorte tiveste!

Konigvs disse...

Eu já tinha visto este post brutal em tempos. E pelo que li dos comportamentos e caraterísitcas da espécie faz sentido com o que presenciei. Excelente trepadora, emitia uns barulhos (parecia que bufava) e adotou uma postura agressiva. Já agora partilhei aqui:
http://bucolico-anonimo.blogspot.com/2016/01/cobra-no-botanico-do-castelo.html

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