Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Família: Amphisbaenidae
Género: Blanus
Espécie: Blanus cinereus (Vandelli, 1797)
Descrição:
A Cobra-cega é um réptil de aspecto vermiforme, sem membros, com um comprimento total de 26 a 28cm, de coloração rosa, arroxeada, cinzenta e todos os tons possíveis de castanho. A sua cabeça é triangular, separada do corpo por um sulco transversal e possui um focinho arredondado. Os seus olhos atrofiados (característica particular), são cobertos por escamas, visíveis apenas como dois pontos negros sob a pele. A cabeça e o corpo estão cobertos por escamas regularmente dispostas em filas longitudinais e de tamanho semelhante, podendo ter cerca de 110 a 134 anéis de escamas no corpo e 20 a 42 na cauda, o que lhe confere um aspecto segmentado. A extremidade da cauda é arredondada.
Dimorfismo sexual escasso, os machos podem atingir um comprimento total (cabeça-corpo) de 25,4cm e as fêmeas de 23,5cm. Foi também registada uma maior taxa de crescimento da altura da cabeça nos machos, durante a ontogenia.
Juvenil de aspecto e coloração semelhantes ao adulto.
Espécies similares:
Inconfundível, pelo seu aspecto geral e coloração normalmente rosa.
Distribuição:
Espécie endémica da Península Ibérica, onde está ausente apenas numa faixa contínua, situada norte, que engloba o extremo Noroeste de Portugal, a Cordilheira Cantábrica a os Pirenéus. Pode ser encontrada desde o nível do mar até aos 2000m na Serra de los Filabres (Almeria). Em Portugal a sua ausência devido a condicionantes climáticas parece limitar-se ao Extremo Noroeste do país, área abrangida pela região atlântica. A sua aparente ausência noutras áreas pode estar relacionada com características do meio, quer naturais (solos muito argilosos ou muito arenosos e ausência de pedras), quer humanas (e. g. exploração silvícola intensa e áreas urbanas). Estes locais sem observações podem reflectir uma ausência real mas também dificuldades de detecção. Encontra-se até aos 1000 na Serra de Santa Comba em Trás-os-Montes (Valpaços/Mirandela). Recentemente foi confirmada a sua presença nos concelhos de Gondomar e Vila Nova de Gaia, o que salienta a importância do corredor formado pelo vale do rio Douro (mais quente e seco do que os planaltos envolventes), como meio de conexão entre este núcleo e as regiões do interior (área principal de distribuição).
Biologia:
Esta espécie possui hábitos subterrâneos, embora possa ser encontrada á superfície, daí ser tão difícil de observar. Apresenta uma capacidade invulgar de escavar túneis, nos quais se pode deslocar em ambas as direcções devido às suas extremidades arredondadas, escavando a profundidades distintas ou colocando-se sob rochas de diferentes tamanhos e espessuras, a fim de alcançar a sua temperatura corporal óptima (19ºC a 24ºC). Tem actividade diurna e nocturna, e pode encontrar-se activa de Fevereiro a Novembro. O seu período reprodutor parece iniciar-se no inicio da Primavera no sul da P. Ibérica. As fêmeas colocam geralmente um ovo (1 a 2) de grandes dimensões (23,6-29,2mm de comprimento e 4,8-5,5mm de largura) no solo ou debaixo de troncos em decomposição. È um predador generalista e os seus padrões de selecção da dieta sugerem que é um “procurador activo” (“widely foraging”), consistindo a sua alimentação em formigas, larvas de insectos e outros artrópodes. Parece utilizar os sinais auditivos associados ao movimento para localizar as presas a grandes distâncias, e os sinais químicos e odoríferos para identificar e descriminar as mesmas a curtas distâncias. Os seus principais predadores são aves, répteis e até um anfíbio, o Sapo-comum (Bufo bufo).
Habitat:
Pode ser encontrada em galerias escavadas no solo e debaixo de pedras, onde procura calor para efectuar termorregulação. Ocupa principalmente as áreas de clima mediterrânico, encontrando-se associada a zonas quentes com uma certa humidade, em solos que pouco compactados, que permitam a escavação. São as características do substrato as que têm uma influência directa na selecção do microhabitat, tendo o coberto vegetal uma influência indirecta. O diâmetro das suas galerias é ajustado ao tamanho do seu corpo. Típica de baixas altitudes.
Curiosidades:
Na presença de perigo, quando não pode escapar pelos túneis, enrola o corpo sobre si mesma ou sobre algum objecto ao seu alcance, ou contorce-se violentamente. Possui autotomia da cauda a partir do quarto anel pós-cloacal. Pode também morder, mas não possui veneno e é totalmente inofensiva para o Homem.
È frequente apresentar albinismo parcial (numa população do sul da Galiza, 21,9% dos indivíduos observados (n=32) tinha albinismo parcial, (tendo já sido observado um individuo totalmente albino)), como o indivíduo aqui registado (foto em baixo). Apresenta fluorescência azul/verde quando iluminada com luz ultravioleta.
Conservação e ameaças:
Os seus hábitos subterrâneos e secretivos reduzem o impacte de algumas ameaças comuns a outras espécies de herpetofauna (atropelamento e perseguição humana).
A preservação da qualidade do solo é indispensável para a manutenção de populações viáveis. Deste modo as maiores ameaças relacionam-se com os povoamentos florestais de espécies exóticas; a agricultura industrializada que recorre a maquinaria pesada e a pesticidas e herbicidas em quantidades elevadas. A perda do mosaico paisagístico e empobrecimento dos locais de alimentação e abrigo também são factores importantes na diminuição da abundância desta espécie.
Estatutos de conservação:
Possui um estatuto de “Pouco Preocupante” (LC), quer a nível internacional (IUCN), quer em Portugal e Espanha.
Referências:
Ferrand de Almeida, N; Ferrand de Almeida, P; Gonçalves, H; Sequeira,F; Teixeira, J & F, Ferrand de Almeida. 2001. Guia FAPAS dos Anfíbios e Répteis de Portugal. FAPAS e Câmara Municipal do Porto. Porto. 249 pp.
Ribeiro, B. S. (2008): Blanus cinereus. Pp 164-165, in: Loureiro, A., Ferrand de Almeida, N., Carretero, M. A., & Paulo, O. S. (eds), Atlas dos Anfíbios e répteis de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Lisboa.
21 comentários:
Olá Luís,
De que zona é esta Cobra-cega?
Olá Paulo,
Foi observada no distrito da Guarda.
Olá Luís, também nós a observamos este ano no Verão na zona de Valpaços e Chaves e comunicamos ao José Teixeira.
Manuela Miranda, Paulo Travassos, José Ramón e Marco Fachada
hoje apareceu uma no meu quinta tinha 25 cm,eu matei ela
aqui em lagos no algarve tbm se costumam avistar quando se revolve a terra sendo que aqui tem fama de poderem ao morder quase matar uma pessoa sendo por isso a maior parte delas mortas pelos locais.
A cobra-cega é um Anfíbio!!
ordem: Gymnophiona ( Ápodes )
Cara anónimo,
Deve estar confundido com outra espécie, aconselho que confirme.
Engraçado, vim a internet à procura de informação sobre um bicho que encontrei no logradouro do meu prédio, em plena Lisboa, e descobri que é certamente esta espécie. Já é a segunda vez que encontro uma no logradouro quando revolvo a terra para plantar alguma planta. É normal encontrá-la em habitats deste género e dentro de Lisboa?
Caro anónimo,
Esta espécie está dada para toda a região de Lisboa, é muito provável que o seu logradouro seja o espaço vital desse exemplar.
eu encontrei um filhote aqui em casa meu tio queria mata-lo mas o convenci e deixamos ela ir embora na grama
Boa tarde
Na Serra da Arrábida também já encontrei vários exemplares de Blanus cinereus (Licranço), são inofensivos e tentam fugir como podem.
A cobra cega é um Anfíbio da Ordem Gymnophiona – Família Caecililidae.
Muito completo o seu trabalho aqui apresentado, moro no concelho de Mação perto de Abrantes e já observei a cobra cega na freguesia do Penhascoso já vi duas na Queixoperra, na freguesia da Ortiga vi uma, e por ultimo nesta ultima semana na Vila de Mação enaquanto limpava um terreno dei de caras com outra!
abraço e bom trabalho!
Também já encontrei duas no logradouro do meu prédio em Lisboa.
Será que está espécie poderá ser encontrada no luso/mealhada?
Caro Anónimo,
Sim, o Atlas de Herpetofauna de Portugal Continental dá a presença desta espécie para a zona da Mealhada.
Com os melhores cumprimentos,
Sou de Proença a Nova, Castelo Branco, e desde pequeno que me lembro de as ver.... Mais comum era vê-las no Verão, na altura de arrancar as batatas. Mas como têem fama de ser "venenosas", acho que poucas as que são avistadas sobrevivem....
Excelente trabalho, cumprimentos,
Fernando
encontrei uma dentro do meu quarto, como ela poderia ter entrado?
Cara Priscila,
Esta espécie possui hábitos maioritariamente subterrâneos, as suas incursões pela superfície são fugazes e sempre em zona de solo, pelo que não é nada normal andar por locais sem solo (dentro de casas).
O mais provável é ter-se confundido como outra espécie.
Com os melhores cumprimentos,
Paulo Barros
Encontrei 2 em minha casa no mesmo sitio. O que faço? Zona de Lisboa
Boa noite.apanhei um exemplar no tecto falso do meu quarto, em plena Cascais. Sei que é esta espécie e tenho foto que comprovo. Posso enviar? Para onde? Tenho curiosidade em saber como foi para lá parar...se escavam túneis....
Enviar um comentário