sábado, 26 de maio de 2012

Texugo (Meles meles)

Taxonomia:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Classe: Mammalia
Ordem: Carnivora
Família: Mustelidae
Género: Meles
Espécie: Meles meles
Nome comum: Texugo

Os indícios de presença são a forma mais fácil de verificar a sua existência num determinado local. A pegada do texugo é constituída por uma grande almofada, 5 pequenas marcas de dedos e pelas marcas das garras alguns centímetros à frente destes.

Identificação: Os rasgos morfológicos desta espécie estão fortemente condicionados pela sua forma de vida escavadora. Deste modo, apresenta uma cabeça pequena mas robusta e um pescoço muito forte, embora pouco visível. O corpo é alargado e muito robusto acabando num pequena cauda. Os seus membros são fortes e acabam numas poderosas unhas que lhe permite a escavação. O seu órgão táctil primordial são as vibrissas que têm no focinho. Os olhos são muito pequenos e parecem desempenhar um papel menos importante do que os outros sentidos. Tendo em conta a aptidão escavadora desta espécie, as orelhas são muito pequenas. As suas dimensões principais são: comprimento (59-87cm); cauda (11-20cm); peso (4,8-9,7Kg).

Distribuição: É uma espécie de ocorrência paleártica, em Portugal apresenta uma distribuição ampla mas fragmentada (devido à tipo de solo que impossibilita a escavação), sedo mais rara nas zonas secas do Sul do que no Norte.

Habitat: Os texugos preferem meios mistos de bosques e prados em áreas moderadamente frescas e com precipitações moderadas a elevadas. As preferências do habitat estão directamente relacionadas com a disponibilidade alimentar e solo propícios à construção das tocas. Em muitas zonas mediterrânicas, os texugos seleccionam ambientes mas heterogéneos, como por exemplo zonas agrícolas que alternam com bosque e pequenas linhas de água e evitando zonas contínuas de bosque. Em zonas semiáridas mediterrânicas, mostra preferência por zonas de fruteiras e áreas rochosas e de matorral.

Reprodução: As fêmeas do texugo apresentam uma ovo-implantação retardada, pelo que os blastocistos apenas são implantados uns meses depois dos acasalamentos que ocorrem durante o Inverno. A implantação dá-se sempre numa altura específica do ano independentemente da altura da fecundação de modo a que as crias nasçam numa época com uma maior disponibilidade de recursos alimentares. Por norma, todas as fêmeas (desde que sexualmente activas) de um grupo familiar podem reproduzir-se, contudo em situações de elevadas densidades, poderá ocorrer fenómenos de supressão reprodutiva e apenas algumas das fêmeas de cada grupo se reproduzem. Os machos atingem a maturidade sexual aos 12 meses de idade, enquanto as fêmeas podem parir pela primeira vez aos dois anos de idade. Os texugos reproduzem-se apenas uma vez por ano e o número de crias é normalmente de 3, que permanecem na toca durante as primeiras 10 semanas, momento em que começam a ter o controle total sobre a sua termorregulação. Após as 12 semanas de vida as crias deixam de mamar para passar a comer alimentos sólidos.

Alimentação: O texugo é uma espécie omnívora e com uma grande flexibilidade na hora de escolher a sua dieta. Embora durante muito tempo se tenha considerado uma espécie especialista no consumo de minhocas, hoje em dia é consensual que se trata de uma espécie generalista, contudo os estudos apontam para um relação positiva da presença de minhocas na dieta e o aumento da densidade de indivíduos, assim como na eficácia biológica como a condição física e a resistência a certos parasitas. Os texugos alimentam-se de um amplia gama de recursos, desde, insectos, frutos (silvestres ou não) e pequenos mamíferos e aves, coelhos e fungos, assim como cereais, azeitonas.

Predadores: Os texugos têm poucos predadores, estando limitado ao lobo, cães assilvestrados ou aves de rapina de grande porte.

Estatuto de conservação:
De acordo como o Livro Vermelho de Vertebrados de Portugal (LVVP), o Texugo está classificado como LC - “Pouco Preocupante”.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Quando a Serra foi Mar


À excepção de pequenas zonas limítrofes, toda a área do Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros encontra-se incluída no Maciço Calcário Mesozóico, sendo que os constituintes geológicos principais pertencem, quase totalmente, ao Jurássico com predominância dos calcários pertencentes ao Dogger (Jurássico Médio – 175 a 161 Milhões de anos). Existe ainda uma variedade de formações com várias idades desde o Cretácico, passando pelo Miocénico até ao Plio-Plistocénico terminando em formações modernas, detríticas e de “terra rossa”, nos vales e depressões fechadas, aluviões modernos ao longo de algumas linhas de água e afloramentos de rochas eruptivas, como sejam doleritos e rochas afins, basaltos e brechas vulcânicas.
Nestas formações é possível encontrar fósseis, uma vez que nos encontramos no domínio das rochas sedimentares. As camadas rochosas presentes na serra formaram-se através da precipitação de substâncias dissolvidas na água, principalmente carbonato de cálcio. Podemos encontrar rochas de fácies marinhas e fácies continental. É característico nestas formações observar fósseis (como dos ancestrais das estrelas-do-mar ou ouriços-do-mar) e icnofósseis (como as pegadas de dinossauros).
Fóssil de estrela-do-mar (asteróides)

Os materiais que constituem o maciço emergiram devido as movimentações tectónicas provocadas por falhas formando uma cadeia montanhosa que compreende, actualmente, as Serra d'Aire e Candeeiros.
Do ponto de vista morfológico podem diferenciar-se no Maciço Calcário Estremenho três subunidades que correspondem a compartimentos elevados – A Serra dos Candeeiros a Oeste, o Planalto de Sto. António ao Centro e Sul e o Planalto de S. Mamede e a Serra de Aire, respetivamente a Norte e Este. A separar estas subunidades encontram-se três depressões originadas por grandes fracturas, respectivamente a depressão da Mendiga, o Polje de Minde-Mira e a depressão de Alvados.
Por todas estas razões, este é um local onde os mais significativos e típicos fenómenos cársicos se encontram representados no nosso país, de que são exemplo as dolinas, as uvalas, os poljes e campos de lapiás, no que concerne ao modelado de superfície, e a existência de inúmeras grutas e algares (mais de 1500) que cruzam o interior do maciço.
Fóssil de ouriço-do-mar (equinóides)

Apesar da ausência de cursos de água de superfície organizados nesta região, eles existem em abundância no subsolo, constituindo um dos maiores – se não o maior – reservatório de água doce subterrânea do nosso País e que se estende entre Rio Maior e Leiria.
Das várias nascentes cársicas existentes na região, a mais conhecida e importante no que toca a caudais emitidos é a dos Olhos de Água do Alviela, que fornece água a Lisboa desde 1880.

Fotos de Paulo Barros e texto de Carlos Rodrigues