domingo, 20 de março de 2011

Sorex granarius


Taxonomia:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Classe: Mammalia
Ordem: Insectivora
Família: Soricidae
Género: Sorex
Espécie: Sorex granarius
Nome comum: Musaranho-de-dentes-vermelhos
  
Identificação: Mamífero insectívoro, de aspecto e forma parecido com o rato doméstico, o seu focinho comprido que afunila bruscamente adquire uma forma cónica e provido de pêlos sensoriais, o desenvolvimento do sentido do tacto para a exploração e detecção de alimento fez com que a vista perde-se alguma funcionalidade. A sua pelagem é curta, densa e macia. Em Portugal os musaranhos separam-se entre os que têm os dentes brancos (Croccidura russula, Croccidura suaveolens e Suncus etruscus) e os que têm os dentes vermelhos (Sorex minutus, Sorex granarius e Neomys anomalus) além da coloração dos dentes as orelhas podem ser uma característica para os distinguir, visto que os que têm dentes brancos têm também as orelhas sobressaídas da pelagem.
Promenor da coloração vermelho dos dentes

Distribuição: O musaranho-de-dentes-vermelhos tem uma distribuição restrita a uma faixa litoral do Noroeste da Península Ibérica e no interior Centro às Serras de Gredos e Guadarrama. Em Espanha, está por confirmar a sua presença a norte do Sistema Central e em certos enclaves da Cordilheira Cantábrica. Em Portugal, ocorre a Norte do Tejo, nas zonas de clima atlântico.
Habitat: As áreas preferidas pelo Sorex granarius caracterizam-se por apresentar uma temperatura média anual entre os 3º e 15ºC, com Invernos frios ou extremamente frios, e com uma precipitação anual superior a 600mm, localizando-se em níveis bio-climáticos Supra ou Oromediterrânico, desde os 500 até aos 2000m de altitude. Esta espécie ocorre frequentemente em faiais, pinhais, carvalhais e sobreirais, assim como em zonas em que os bosques autóctones tenham sido substituídos por campos de cultivo ou bosques de Castanea sativa o Pinus pinaster. Acima do nível florestal, a espécie tem sido capturada em zonas de afloramento rochoso graníticos próximo de pastagens.
Reprodução: A reprodução ocorre na Primavera e Verão, o período de gestação é de 13-19 dias e o número de crias por ninhada varia entre 5 e 7. Os exemplares alcançam a maturidade sexual ao segundo ano de vida e raramente chegam a sobreviver mais do que 3 anos.
Alimentação: O musaranho-de-dentes-vermelhos tem uma dieta carnívora, constituída por invertebrados, entre os quais predominam os anelídeos, insectos, aracnídeos e moluscos.
Predadores: Os estudos demonstram que esta espécie faz parte frequentemente da dieta alimentar da Corruja-das-torres (Tyto alba), Corruja-do-mato (Strix aluco), da Gineta (Genetta genetta), da Raposa (Vulpes vulpes), da Fuinha (Martes foina), Gato-bravo (Felis silvestris), Gato doméstico (Felis catus) e da Víbora-cornuda (Vipera latastei).
Estatuto de conservação:
De acordo como o Livro Vermelho de Vertebrados de Portugal (LVVP), o Musaranho-de-dentes-vermelhos é um Endemismo Ibérico e está classificado como “Informação Insuficiente”.

sábado, 12 de março de 2011

Rã-iberica (Rana iberica)

No passado fim-de-semana, decidi sair um pouco da rotina, coisa que já não fazia algum tempo; peguei na máquina fotográfica e fui caminhar pelas margens do rio Côa junto ao Sabugal.
Esta época do ano contempla-nos com excelentes paisagens de árvores despidas de folhas, com vocalizações e comportamentos ansiosos por parte da avifauna, para que os dias quentes da Primavera apareceram rapidamente…
Contudo, e num olhar mais atento por entre as secas folhas e o verde do musgo, surgiu um pequeno exemplar de Rã-iberica (Rana iberica)…

Rã-iberica (Rana iberica) rio Côa

Descrição:
Cabeça com focinho pontiagudo. Olhos proeminentes e grandes, com pupila horizontal elíptica. Membros anteriores com quatro dedos e posteriores muito compridos, adaptados ao salto, com cinco dedos unidos por membranas interdigitais bem desenvolvidas, cujo comprimento raramente ultrapassa os 55 mm. Pele lisa com pequenos grânulos na região dorsal e com pregas cutâneas dorsolaterais paralelas. Timpano pequeno e, geralmente, pouco perceptível. Coloração dorsal muito variável, predominando os tons acastanhados, alaranjados, ou mesmo avermelhados. Sobre o dorso pode apresentar pequenas manchas negras. O ventre é esbranquiçado, podendo apresentar um reticulado escuro mais intenso na região da garganta, delimitando uma linha ou banda longitudinal central mais clara. Desde a narina até ao olho apresenta tipicamente uma linha escura, que se alarga na região posterior.
Espécies similares:
À primeira observação, esta espécie pode ser confundida com a rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi), da qual se distingue devido à presença de uma típica mancha pós-ocular escura. Contudo, um observador menos experiente poderá erradamente identificar um exemplar de Rã-verde como Rã-iberica, devido a esta apresentar uma enorme variabilidade morfológica.
Distribuição em Portugal:


Habitat:
Ocorre desde o nível do mar até aos 1900m, na Serra da Estela. Habita em ronas de montanhosas, junto a ribeiros de água limpa, com substrato rochoso e vegetação abundante nas margens. Pode ainda ser observada em charcos, prados húmidos e terrenos encharcados, com bastante vegetação herbácea ou arbórea na envolvente.

Biologia:
Apresenta actividade tanto diurna como nocturna. Encontra-se activa todo o ano, embora seja menos conspícua nos dias mais frios de Inverno e durante os meses quentes de Verão.
O período reprodutivo estende-se por norma de Novembro a Março, variando com a altitude. O acasalamento é mais frequente durante a noite, dentro de água, sendo o amplexo axiliar. As posturas são reduzidas – cerca de 100 a 450 ovos – e variam com o tamanho da fêmea. Esta deposita os ovos em massas esféricas e compactas, na vegetação aquática ou entre pedras.
Conservação e ameaças:
As principais ameaças desta espécie são: a poluição dos cursos de água, com pesticidas, e afluentes industriais e domésticos, e a destruição dos habitats ribeirinhos, com construções urbanísticas, agricultura intensiva e produção de monoculturas florestais.
A sua conservação deve assentar-se na protecção e manutenção dos habitats ribeirinhos e florestais de caducifólias que os rodeiam. Preservar prados húmidos, incluindo os lameiros e as trufeiras.


Referências e sites:
• Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. Loureiro, A., Ferrand de Almeida, N., Carreto, M.A. & Paulo, O.S. (coords.) (2010). Esfera do Caos Editores, Lisboa 256 pp.
• Guia FAPAS – Anfíbios e Répteis de Portugal. Almeida N., Gonçalves H., Sequeira F., Teixeira F. (2001).
• Anfíbios & Répteis de Portugal

Observação de Águia-cobreira (Circaetus gallicus)

A Águia-cobreira está de volta a Trás-os-Montes!!
No passado dia 10 de Março de 2011 (quinta-feira) pelas 11 horas observei pela primeira vez este ano, 2 indivíduos de Águia-cobreira. Um pousado num pinheiro-bravo e outro em voos circulares, junto à estrada N214 entre Vila Flor e Benlhevai.



Registo de observação de Águia-cobreira (Circaetus gallicus)


Águia-cobreira (Doñana 2007)

domingo, 6 de março de 2011

Conta-me como foi

 
Subespécies da Capra pyrenaica, segundo Cabrera (1914):A: C. p. pyrenaica, B: C. p. victoriae, C: C. p. hispanica, D: C. p. lusitanica.

Esta semana tive a sorte de encontrar a relíquia de Ángel Cabrera de 1914 (Fauna Ibérica: Mamíferos), onde tem uma nota sobre a história do estudo de mamíferos da Península Ibérica, onde podemos ler o seguinte:

Os primeiros registos escritos dos mamíferos Ibéricos, foram feitos por um soldado, Gonzalo Argote de Molina, que em 1582 publicou o “Libro de la Monteria del Rey Alfonso XI de Castlha y León”, e por dois monteiros da Casa Real de Espanha: Alonso Martinez de Espinar, que desempenhou este cargo na corte de Felipe IV e escreveu a “Arte de ballesteria” (1644), e Agustín Clavo Pinto, monteiro de Fernando VI e autor de um tratado sobre “Modo de cazar todo género de aves y animales” (1754). Até à época dos dois primeiros, também Jerónimo de Huerta e Diego Funes, nas suas traduções das obras de Plínio e Aristóteles, respetivamente, fizeram frequentes alusões à nossa fauna. Os livros de estes autores não são realmente livros de história natural, mas sim tratados de caça, com descrições mais ou menos fiéis de muitos mamíferos que existiam na península Ibérica.

Com a sua “Introductio in Oryctographiam et Zoologiam Aragoniae”, na qual figura um catálogo dos mamíferos Aragoneses apresentado na forma Lineana, Ignacio Asso parece iniciar, em 1784 uma segunda época, que poderíamos chamar “As faunas locais”. De efeito, durante pouco mais de um século, os naturalistas Espanhóis e Portugueses, e alguns estrangeiros, ocuparam-se seriamente da mossa fauna mamalógica, estudando-a por províncias ou regiões, muitos casos apenas apresentem um catálogo detalhado mais ou menos descritivo das espécies observadas em determinado local. Assim, Juan Ramis (1814) e Francisco Barceló (1875) escreveram sobre os mamíferos das ilhas baleares; Alonso López (1852) e López Seone (1861-63) ocuparam-se dos da Galiza; Rosenhauer (1856) e Machado (1867), dos da Andaluzia; Graells (1852) e Cazurro (1894) dos que andavam pela província de Madrid, e finalmente Barboza du Bocage (1863) e Oliveira e Lopes Vieira (1896) os de Portugal.

Desgraçadamente, os autores Espanhóis deste período, fundamentaram os seus trabalhos na literatura Francesa e Alemã, escrevendo com o prejuízo de que os mamíferos por eles observados tratavam-se dos mesmos que existiam nos outros países. Mais assertivos os Lusitânicos, tiveram em Barboza du Bocage um Zoólogo que soube descrever para Portugal fauna peculiar, como por exemplo a sua “Notícia sobre os Arvicolas de Portugal” onde se indica que a Rata-de-água existente em Portugal não é a Arvicola amphibius e é descrita uma nova espécie, a Arvicola (=Microtus) rozianus (= Microtus agrestis).


José Vicente Barbosa du Bocage (Funchal, 1823 — Lisboa, 1907) foi um zoólogo e político português. Foi curador de zoologia do Museu de História Natural de Lisboa. Publicou extensa obra sobre mamíferos, aves e peixes. Na década de 1880 foi Ministro da Marinha e mais tarde Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal. Por decreto governamental de 10 de abril de 1905 a secção de zoologia do Museu Nacional de Lisboa foi nomeada como "Museu José Vicente Barbosa du Bocage" em sua honra. José Vicente era primo em segundo grau do poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805).