domingo, 30 de janeiro de 2011

Bat's in the net 2010


O tempo disponível para as capturas durante o ano 2010 não foi muito, mesmo assim foi possível realizar 24 sessões de capturas, distribuídas entre o Sabugal e Bragança.
Os mais de 800 metros de rede esticados, permitiram a captura de 151 indivíduos distribuídos por 16 espécies diferentes.
Os resultados obtidos, permitiram a aquisição de novos dados para espécies com Informação Insuficiente (DD), assim como para as espécies com estatuto de ameaça (VU e EN), e ainda a confirmação da presença do Myotis escalerai e do Eptesicus isabellinus na Beira Interior Norte.

O número de capturas por espécie foi a seguinte:
Myotis bechsteinii EN (n=1)
Myotis myotis VU (n=1)
Myotis escalerai NA (n=5)
Myotis emarginatus DD (n=1)
Myotis daubentonii LC (n=55)
Pipistrellus pipistrellus LC (n=21)
Pipistrellus kuhlii LC (n=6)
Pipistrellus pygmaeus LC (n=3)
Hypsugo savii DD (n=7)
Nyctalus leisleri DD (n=7)
Nyctalus noctula DD (n=1)
Eptesicus serotinus LC (n=14)
Eptesicus isabellinus NA (n=1)
Barbastella barbastellus DD (n=9)
Plecotus auritus DD (n=6)
Plecotus austriacus LC (n=13)
Não poderia escrever este post sem agradecer a todos aqueles que me de algum modo contribuíram para estes resultados, aos que me acompanharam durante as sessões de captura à Estação Biológica de Doñana em particular ao Javier Juste e toda sua equipa pela confirmação genética de alguns exemplares. E finalmente à lua (embora algumas vezes me fizesse perder a paciência!!!) que me fez companhia nas noites mais solitárias.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Myotis emarginatus


Indivíduo fotografado dentro de um edifício, na localidade de Sto. Adrião, em Vimioso.
Morcego-lanudo (Pt) (Murciélago Ratonero Pardo (Es))

Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Chiroptera
Família: Vespertilionidae
Género: Myotis
Espécie: Myotis emarginatus (Geoffroy, 1806)


Descrição:
O Morcego-lanudo é um morcego de tamanho médio/pequeno. As suas orelhas são de tamanho médio, com 6 a 7 pregas transversais, e quando estendidas não ultrapassam a ponta do nariz. Possui um entalhe no bordo da orelha, mais acentuado do que nas outras espécies, quase em ângulo recto, característica que o distingue. O trago é pontiagudo, em forma de lanceta e não ultrapassa o referido entalhe. A sua pelagem tem aspecto “lanoso” com pêlo comprido. O pêlo do dorso tem três cores: a base é cinzenta, a parte média é amarelo-palha e a ponta castanho-arruivada. O ventre é amarelo-acinzentado. Os indivíduos adultos mais velhos apresentam uma coloração muito uniforme, distinta da dos juvenis. O nariz é vermelho acastanhado e as membranas alares são cinzento-acastanhadas-escuras e as membranas laterais começam na base dos dedos das pequenas patas. O esporão é direito e atinge metade da membrana caudal, que por sua vez apresenta por vezes uma franja de pêlos escassos, curtos, lisos e macios. Só a ponta da cauda sai fora da membrana caudal. A pele dos testículos é negra.
Biometrias: Cabeça – corpo: 41 a 53mm; Antebraço: 36,1 a 44,7mm.  


Espécies similares:
Pode ser confundido com outras espécies de Myotis de tamanho pequeno, nomeadamente: M. bechsteinii (Morcego de Bechstein), M. nattererii (Morcego-de-franja), M. daubetonii (Morcego-de-água) e M. mystacinus (Morcego-de-bigodes).


Ecologia/biologia:
Morcego nocturno, sai tarde do abrigo, geralmente 30 min após o pôr-do-sol. É uma espécie sedentária com deslocações inferiores a 40 km, sendo a deslocação máxima observada de 106 km. Utiliza edifícios e cavernas como abrigos de criação e hibernação. Os indivíduos geralmente hibernam isolados ou em pequenos grupos. Durante a época de criação pode formar colónias com outras espécies como R. euryale, R. mehelyi e R. ferrumequinum como se observou no sul de Espanha. As suas colónias de criação estão compreendidas entre 20 e 200 fêmeas ou mesmo 500 e 1000. caça em voo e no solo, alimentando-se essencialmente de dípteros (ex: mosquitos), himenópteros, mariposas e lagartas. O acasalamento (“swarming”) tem início no Outono, e os nascimentos ocorrem em Junho/Julho. As fêmeas podem reproduzir-se no primeiro ano, embora os nascimentos só ocorram no seu segundo ano de vida, tendo apenas uma ninhada de uma cria por ano. Os juvenis podem voar às 4 semanas de idade. A sua longevidade máxima conhecida é de 23 anos.


Pormenor do entalhe no bordo externo das orelhas


Pêlo lanoso do dorso e pormenor do entalhe do bordo externo da orelha

Distribuição:
Ocorre na Europa (sendo rara no Norte), Centro e Sudoeste da Ásia e no Norte de África.
Em Portugal tem uma distribuição ampla, mas é uma espécie relativamente rara, estimando-se que a população seja constituída por menos de um milhar de indivíduos, agrupados durante a época de criação, num número muito reduzido de colónias.


Habitat:
Embora pareça evitar bosques muito densos, caça quer em zonas florestadas e nos seus limites, quer em zonas abertas como prados e massas de água. Apesar de ser uma espécie essencialmente cavernícola pode abrigar-se também em edifícios e cavidades de árvores. Em Espanha a sua presença perece ser favorecida por uma orografia acidentada, atingindo os 1780m de altitude na Sierra de Baza (Granada), conhecendo-se a colónia de criação a maior altitude, a cerca de 1420m na Sirra Arana (Granada).


Ecolocalização:
É impossível de distinguir entre as restantes espécies de Myotis de tamanho pequeno, pelo que a estrutura dos seus pulsos é “Steep FM” situando-se entre os 100 e os 40 kHz têm uma duração curta, entre 2 e 6 ms.


Conservação e ameaças:
O reduzido efectivo da espécie, e o seu carácter fortemente colonial tornam-na particularmente vulnerável. A perturbação e destruição de abrigos estão entre as principais ameaças, juntamente com o uso de pesticidas, uma das principais causas de mortalidade, pois devido á sua biologia os morcegos são particularmente susceptíveis a uma contaminação aguda por pesticidas (insecticidas) ingeridos na alimentação, e acumulados no tecido adiposo, a única reserva alimentar disponível durante o período de hibernação. È necessário um esforço no sentido de melhorar o conhecimento, essencialmente do seu efectivo populacional, das tendências da sua população e da sua distribuição, para que seja possível estabelecer um estatuto de conservação adequado e ajustar as respectivas medidas de conservação.


Estatutos de conservação:
A nível mundial possui o estatuto de “Pouco Preocupante” (LC). Em Portugal possui o estatuto de “Informação Insuficiente” (DD), uma vez que não existe informação adequada para avaliar o risco de extinção nomeadamente quanto à redução do tamanho da população. Em Espanha o seu estatuto é “Indeterminada” (I), espécies que se sabe pertencerem a uma das categorias “Em Perigo” (E), “Vulnerável” (V) ou “Rara” (R), mas não existe informação suficiente para determinar a mais apropriada.


Referências:

Macdonald D., Barret P. (1999). Mamíferos de Portugal e Europa. Guias FAPAS. Porto.

Dietz & von Helversen. (2004). Claves de identificación ilustradas de los murciélagos de Europa. Publicación electrónica.


domingo, 9 de janeiro de 2011

Microtus lusitanicus




Taxonomia:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Classe: Mammalia
Ordem: Rodentia
Família: Cricetidae
Família: Arvicolinae
Género: Microtus
Espécie: Microtus lusitanicus
Nome comum: Rato-cego

Identificação: Espécie de pequeno tamanho (CC: 77,5-105,0 mm), com cauda, orelhas e patas curtas (C: 17,0-30,0 mm; O: 6,5-10,0 mm e P:13-16 mm) e pesando apenas 14,0 a 19 gramas.
A forma do seu corpo está perfeitamente adaptada à sua vida subterrânea, tem uma boca pequena com os incisivos superiores ligeiramente projectados para a frente. A coloração do seu dorso é cinzento (variando do escuro ao claro) que por vezes apresenta reflexos ocres nos flancos. A sua cauda é bicolor com a parte superior mais escura. Os dois pares de mamas estão localizados em posição inguinal. Cabeça alta e arredondada com uma fórmula dentária 1.0.0.3/1.0.0.3.
Espécies similares: Na Península Ibérica a espécie mais similar é o Microtus duodecimcostatus (Rato-cego-mediterrânico), mais robusto, e com cauda unicolor.
Distribuição: Presente no quadrante Noroeste da Península Ibérica e no extremo Sudoeste de França. Na Península Ibérica o limite Este da sua distribuição situa-se no Norte de Navarra e Huesca baixando para Sul pela Rioja, Soria e as serras de Gredos e Gata. Em Portugal penetra pela Serra da Estrela estendendo-se pelo norte e pelo sul até Setúbal.
Habitat:
Ocorre em habitats muito diversos, podendo ser observado em zonas naturais (margens de pequenos rios, florestas de castanheiros e carvalhos) ou agrícolas (plantações de batata, cenouras, arrozais e pomares), sendo que a sua ocorrência está muito condicionada à presença de solo pouco densos e húmidos e com uma densa cobertura vegetal.
Biologia: A organização social desta espécie é pouco conhecida, assim como as outras espécies deste género, o Rato-cego provavelmente organiza-se em pequenos grupos familiares, que inclui um casal reprodutor e jovens de várias idades. È um espécie escavadora que utiliza as patas dianteira e os dentes para fazer os túneis. O sistema de galerias consta de túneis superficiais (até 15 cm de profundidade), construídos para se alimentarem e fugirem rapidamente e um conjunto de túneis mais profundos (até 40 cn) onde estão localizadas as câmaras de armazenamento de alimento e os ninhos.
Reprodução: Este género pode ser afectada pelas condições climatéricas e de disponibilidade alimentar, mas em condições normais mantêm-se sexualmente activos durante todo o ano. As fêmeas atingem a maturidade sexual às cinco semanas de vida e os machos às sete. Têm um gestação de 22 a 24 dias, o número de crias varia de um a cinco, sendo que três crias é o número médio e mais frequente. As crias nascem desprovidas de pêlo e com os olhos fechados e pesam cerca de 1,5 gramas. O pêlo começa a aparecer ao fim de 3 dias e ao fim de duas semanas assemelham-se aos seu progenitores.
Alimentação: É uma espécie herbívora com uma dieta baseada em espécies geofítas. A selecção do tipo de alimentação depende principalmente do ciclo de crescimento da vegetação, sendo que no Inverno e Primavera, consome folhas e pequenos caules, já no Outono e Verão a sua dieta baseia-se em pequenos bolbos, sementes e pequenos tubérculos.
Longevidade: Têm uma longevidade máxima de 6 anos, vivendo em média 4 a 5 anos.
Curiosidades: Ocasionalmente, quando atinge elevadas densidades pode constituir uma praga para a agricultura, as culturas mais afectadas são as fruteiras e hortícolas.
Medidas de gestão: Quando esta espécie se torna uma praga nos meios agrícolas, a mobilização do solo e controlo da vegetação é uma medida muito eficaz para o controlo da população.
Medidas de conservação: É uma espécie abundante e com uma ampla distribuição ampla, pelo que até à data não se afigura necessária a implementação de medidas de conservação.
Estatuto de conservação:
De acordo como o Livro Vermelho de Vertebrados de Portugal (LVVP), o Rato-cego está classificado como “Pouco preocupante” (LC).
Referências e Sites:
Mira, A., Mathias, M.L. 2007. Microtus lusitanicus (Gerbe, 1879). In: Atlas y libro rojo de los mamíferos terrestres de España. Edited by L.J. Palomo, J. Gisbert, J.C. Blanco Ministerio de Medio Ambiente, Tragsa, Madrid. pp. 418-421.