domingo, 24 de março de 2013

Morcegos em gaiolas!



È cada vez mais fácil encontrar morcegos à venda como animais de estimação!
Foto de Helena Barbosa

Além da problemática económica e social do uso de animais exóticos como animais de companhia, o principal problema em termos de conservação é a desresponsabilidade da pós-venda, pois sabemos, que não são poucas as vezes que estes animais acabam por ser libertados (assim como introduções acidentais) em qualquer canto. Embora muitas espécies não aportem problemas de maior, em termos de conservação, algumas espécies como por exemplo a rã-de-unhas-africana (Xenopus laevis), originária da África subsariana, foi encontrada em Portugal em 2006 em Oeiras e desde então esta espécie exótica tem predado as nossas espécies autóctones (ovos, larvas e adultos de outros anfíbios, lagostins, peixes de água doce, vermes e moluscos), com potenciais efeitos assustadores, Além disso, esta espécie transporta um fungo (Batracochytrium dendrobatidis) letal para outros anfíbios.
A comercialização de espécies de fauna e flora é regulamentada pela CITES (Convenção sobre o comércio e detenção de espécies da fauna e da flora selvagem ameaçadas de extinção), embora a maior parte das espécies de morcegos estejam ameaçadas de extinção (estando assim ao abrigo da CITES), algumas espécies de morcegos, como é o caso do morcego da fruta egípcio (Rousettus aegyptiacus), não o estão. Deste modo seria de esperar que a sua comercialização fosse legal, contudo esta espécie ocorre no seu estado natural no Chipre (membro da União Europeia), logo esta espécie é protegida no âmbito da Diretiva Habitats (Anexo IV). Assim, de acordo com esta Diretiva Comunitária. “For these species, Member States shall prohibit the keeping, transport and sale or exchange, and offering for sale or exchange, of specimens taken from the wild, except for those taken legally before this Directive is implemented”. Ou seja, de acordo com a Diretiva Habitats, esta espécie apenas pode ser comercializada se for um exemplar capturado antes da sua implementação (1992) ou ter nascido em cativeiro.
Assim, quando encontrarem á venda um morcego (ou outra espécie de animal selvagem) podem sempre perguntar pela documentação CITES ou em alternativa quando esse animal esteja isento de CITES (espécies não ameaçada) mas é ocorrente em território da União Europeia, podem perguntar pela certidão de nascimento em cativeiro. Em alternativa podem denunciar o caso ao Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) ou Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SPENA), no sentido de confirmar a regularidade desta venda.

sábado, 16 de março de 2013

trepadeira-dos-muros (Tichodroma muraria)



A trepadeira-dos-muros (Tichodroma muraria) é uma ave que nidifica nas zonas montanhosas da Europa, principalmente nos Alpes, Pirenéus e Picos da Europa, durante o Inverno é possível observa-la em zonas mais baixas, mas sempre associada a grandes escarpas. Em Portugal esta aves é rara, existindo apenas um punhado de locais de observação, além de passar muito desapercebida a sua observação é muito difícil devido à inacessibilidade de alguns dos locais que frequenta.

 A observação e registo deste vídeo foi feito em Picote numa escarpa junto ao rio Douro

sexta-feira, 1 de março de 2013

Répteis - Dois em um



Foi já no mês de Outubro que, no final de mais um dia de campo, me deparei com um acontecimento que nunca antes tinha testemunhado. Pelo menos não com estas duas espécies…
No meio do caminho estavam duas espécies de répteis que, à primeira vista, pareciam estar tranquilamente a apanhar os últimos raios de sol desse dia. Nesse momento não tinha a noção de que algo de muito mais “interactivo” estaria para acontecer.
Vamos conhecer os protagonistas. De um lado estava um sardão Timon lepidus a maior espécie de lagarto da península ibérica que, segundo alguma bibliografia, pode atingir os 80cm (a cauda pode ser bastante grande). Esta espécie prefere habitats com alguma vegetação arbustiva com boa exposição solar e alimenta-se maioritariamente de insectos como escaravelhos ou gafanhotos. O indivíduo que tinha à minha frente tinha um pouco mais de 20 centímetros e parecia bastante descontraído a apanhar sol.


Um pouco mais ao lado, no meio do caminho estava uma cobra-de-ferradura Hemorrhois hippocrepis. Esta espécie também pode atingir grandes dimensões e tem fama de ser um pouco agressiva para com os seus captores (não se pode censurar!). A cobra-de-ferradura apresenta uma coloração característica com vários círculos escuros delimitados por uma banda mais clara, embora este exemplar não apresentasse a coloração mais típica. É uma espécie não venenosa e que se alimenta de aves e répteis que procura activamente usando a sua agilidade e rapidez. 


Alguns já imaginam o que se passou a seguir…
Ora nem mais, eis que a cobra-de-ferradura se aproxima do impávido e sereno sardão e abre as hostilidades com uma "mordidela" na cabeça. 


Na altura, e não conhecendo bem as capacidades de deglutição desta cobra, pareceu-me que ela tinha “mais olhos que barriga” já que o sardão me parecia demasiado grande para que ela o pudesse comer. Dentro de alguns minutos percebi que estava enganado, o sardão tinha o tamanho ideal para uma boa refeição antes do período de hibernação. Após a primeira “trinca” a cobra já não voltou a largar o lagarto e começou imediatamente a ingerir a sua presa que, até então tinha dado pouca luta. Fiquei impressionado com a capacidade da cobra deslocar as mandíbulas e conseguir engolir uma presa tão grande.


 Já demasiado tarde o sardão se terá apercebido de que a cobra não tinha “boas intenções” já que só começou a debater-se já a refeição ia a meio. 


Ainda tentou usar os seus poderosos membros posteriores para se livrar de ser comido mas sem sucesso, a cobra-de-ferradura só pareceu ter alguma dificuldade quando chegou a vez de engolir os membros anteriores onde o volume corporal do lagarto é um pouco maior. 


Com a refeição terminada, as mandíbulas reposicionadas, com um grande volume no estômago (só me fazia lembrar a serpente do “Principezinho”) e com o dia a terminar lá foi a cobra encontrar um local para pernoitar ou quem sabe passar o inverno.