sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Uns apontamentos sobre “swarming” de morcegos




Os morcegos pertencem a uma das ordens de mamíferos mais diversa. Muitas espécies necessitam de abrigos subterrâneos para a sua sobrevivência e a perturbação e destruição destes refúgios constitui uma das principais causas de declínio de muitas populações de morcegos. Tendo em conta que o conhecimento da bio-ecologia e distribuição dos morcegos em Portugal é limitada e incompleto, a identificação dos abrigos, o seu estudo e proteção constitui uma questão vital para a conservação deste grupo faunístico.
No hemisfério Norte, no final do Verão e início do Outono, um número considerado de espécies de morcegos reúnem-se em refúgios/abrigos subterrâneos, onde caçam (dentro e no seu entorno), têm comportamento de voo particulares, emitem vocalizações sociais e têm comportamentos de acasalamento. Este fenómeno foi inicialmente descrito nos anos 60’s e definido como “swarming”. Desde então, na Europa tem-se realizado muitos estudos sobre o comportamento e genética nos sítios “swarming”, que têm demonstrado que:
1) São sítios de acasalamento de muitas espécies e são refúgios crípticos para o fluxo genético entre populações mais isoladas, prevenindo assim a endogamia populacional;
2) Estes locais podem constituir zonas de refúgio transitório durante as migrações regionais e sazonais;
3) Estes locais, constituem sítios adequados para a transmissão de informação entre adultos e jovens. 
Estas 3 hipóteses funcionais dos sítios “swarming” não são mutuamente excludentes, podem funcionar conjuntamente e são diferentes de espécie para espécie. Alguns estudos foram realizados com o objetivo de estudar diferentes aspetos do “swarming”, como a riqueza e abundância de espécies, a estrutura sexual, a condição física dos macho e fêmeas, etc… Duas características constantes em todos os estudos de “swarming” são a estrutura sexual e etária, a proporção de machos e adultos nestes sítios é habitualmente muito elevada e está correlacionada positivamente com a altitude (localização do abrigo/refúgio). Embora os primeiros estudos sobre “swarming” sejam de longa data (com cerca de 50 anos), os dados de comportamento de algumas espécies, em época de “swarming”, são ainda muito escassos.
A proteção eficiente de abrigos de morcegos deve incidir sobre todos os refúgios utilizados durante todo o ciclo anual (reprodução, acasalamento, migração e hibernação), deste modo os sítios “swarming” representam abrigos importantes de conservação para os morcegos.


A composição sexual e a distribuição temporal ao longo das noites nos sítios “swarming” não são sincronizadas, existindo dois pico claramente distintos, um para cada um dos sexos. Os machos são os primeiros a chegarem a este tipo de sítios, muito devido ao caracter territorial que estes apresentam na época de acasalamento. Quanto mais cedo chegarem a estes sítios melhor é a posição que podem ocupar e consequentemente, maior será a probabilidade de acasalamento. Já as fêmeas, como têm a possibilidade de escolher o macho para acasalar, passam as primeiras horas da noite (de maior atividade de insetos) a alimentar-se e só depois é que se deslocam para os sítios “swarming”. 


Este comportamento, aliado ao tempo gasto para no acasalamento pelos diferentes sexos faz com que a condição corporal dos machos e fêmeas seja diferente. Os machos permanecem muito mais tempo nos sítios “swarming” com o objetivo de acasalarem com o maior número de fêmeas possíveis e as fêmeas passam apenas o tempo necessário neste sítios para acasalar. De facto, os machos nesta época (de “swarming”) apresentam uma condição corporal significativamente inferior á das fêmeas.