segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Buthus occinatus

Indivíduo fotografado no Parque Natural do Alvão, junto ás Fisgas de Ermelo.




Descrição:

Mais conhecido pelo termo popular “Lacrau” (Buthus occinatus - Escorpião Amarelo Europeu), pertencente à Classe Arachnida, Ordem Scorpiones, Família Buthidade, é o único representante da sua ordem em Portugal. O seu corpo é constituído por três partes: anterior ou prososoma; a mediana ou mesosoma; e terminal (caudal) ou metasoma. O mesosoma é constituído por uma camada de placas quitinosas que formam uma carapaça. É a meio do mesosoma que se encontram dois olhos medianos e nos bordos antero-laterais podem encontrar-se grupos olhos mais pequenos, de 2 a 5, todos olhos simples, embora a sua visão seja pouco desenvolvida, parecendo ser o tacto o sentido mais desenvolvido, que reside nas pectinas (pelos) que recobrem o corpo e os apêndices. As suas duas pinças, inseridas na extremidade frontal, são órgãos de captura e sensitivos. È no último segmento abdominal que se encontra o aparelho de veneno, constituído por duas glândulas de veneno e um aguilhão na extremidade. Essas glândulas conterão um volume de, aproximadamente, 8 ml de veneno. A sua coloração é de um tom amarelo-acastanhado.

Dimorfismo sexual: os machos são geralmente maiores do que as fêmeas.

Juvenil de aspecto e coloração semelhantes ao adulto.

Quando se desloca, coloca à frente as pinças, para sondar o terreno.

Espécies similares:

Inconfundível devido ao seu aspecto, uma vez que não existem mais espécies do seu género em Portugal.

Distribuição:

Em Portugal distribui-se por todo o território nacional.

Biologia:

È uma espécie de hábitos nocturnos e crepusculares, podendo ser encontrada debaixo de pedras ou troncos durante o dia. São predadores activos principalmente de aranhas e insectos, podendo também consumir pequenos roedores, répteis e indivíduos da própria espécie. Nunca foram observados a beber e podem sobreviver muito tempo sem se alimentarem, constatando-se que de Outubro a Março, geralmente não se alimentam, encontrando-se mesmo assim acordados e “em guarda”, retomando a sua alimentação em Abril. Estão deste modo perfeitamente aptos a viver em ambientes áridos. A sua reprodução ocorre nos meses mais quentes. São ovovivíparos e podem nascer de uma só vez cerca de 50 crias, que permanecem protegidos no dorso da progenitora, durante duas semanas, até que ocorra a primeira muda de carapaça. Atingem a maturidade sexual ao fim 1 a 2 anos, e pode viver até aos 20 anos, uma vida solitária. Sendo os machos os que têm uma esperança de vida menor, uma vez são frequentemente devorados pelas fêmeas após o acasalamento.

Habitat:

Podem encontrar-se em todo o tipo de habitats, mas ocorrem geralmente em zonas áridas, abrigados debaixo de pedras, em galerias subterrâneas, troncos e raízes mortas de árvores abatidas.

Curiosidades:

Apesar de pertencer à Família Buthidae, onde se encontra as espécies mais tóxicas, os efeitos do seu veneno não são mortais (salvo raras excepções, como crianças de tenra idade), após a picada, os efeitos no local podem ser mínimos, mas a dor é muito intensa e o membro forma um edema, ficando parcialmente paralisado. Os sintomas vão desde a ansiedade, arrepios, cãibras musculares e hipotensão. Se não existir acompanhamento médico a dor pode durar horas e os sintomas até 2 dias, podendo persistir os sintomas neurológicos durante mais de uma semana. Quem anda no campo, geralmente á procura de répteis debaixo de pedras e troncos, deve ter especial cuidado, pois é frequente ter um encontro imediato com estas criaturas, e a probabilidade de sofrer uma picada é alta. A sua epiderme emite fluorescência quando iluminado por luz ultravioleta. Podem resistir a uma amplitude térmica que vai dos -10ºC aos 60ºC. Sobrevivem a um período de imersão de 2 dias, e possuem uma grande resistência à radioactividade, crê-se que são 150 vezes mais resistentes que o Homem, pelo que, se a extinção da espécie humana ocorrer devido a um holocausto nuclear, eles serão uma das espécies que assistirá ao nosso desaparecimento…. Na primeira fila….

Referências (fonte):

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Galemys pyrenaicus


Taxonomia:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Insectivora
Família: Talpidae
Género: Galemys
Espécie: Galemys pyrenaicus
Nome comum: Toupeira-de-água
A ideia mitológica que tenho da Toupeira-de-água não resulta apenas das poucas observações que tenho dela, mas também e em grande parte pelo seu habitat, sempre que penso nesta espécie vejo-a num curso de água fria, translúcida, barulhenta, inserida entre vegetação arbórea luxuriante de amieiros, freixos e salgueiros, onde os blocos de pedra granítica e os tufos de juncos fazem serpentear o curso de água.
Identificação: A Toupeira-de-água é um animal inconfundível, onde a sua tromba aplanada e sem pêlos se destaca de um corpo anafado. A sua cauda grossa e comprida é escamosa e de secção arredondada. Tem olhos muito pequenos e o seu aparelho auditivo não é visível. Tem pêlo comprido e liso de cor castanho ou cinzento-escuro, a parte ventral é mais clara. As suas patas posteriores são muito maiores do que as anteriores e adaptadas à natação com membranas interdigitais. O seu crânio é similar às restantes toupeiras onde se destaca os primeiros incisivos de grande tamanho e de forma triangulares. Tem um comprimento de corpo de 115-135 mm, cauda de 125-160 mm, um peso de 50-76 gramas e a sua fórmula dentária é 3:1:4:3/3:1:4:3
Espécies similares: Em Portugal não existem espécies passíveis de serem confundidas com a Galemys pyrenaicus.
Distribuição: Esta espécie é um endemismo Ibérico, sendo que a sua área de distribuição restringe-se ao Norte e Centro da Península Ibérica e Pirenéus.
Habitat: Vive em cursos de água montanhosos de corrente forte, fria, límpidas e oxigenadas de profundidade reduzida e com um caudal regular durante todo o ano, cursos de água de características lóticas, geralmente classificados como pertencentes à zona salmonícola e de transição salmonícola-ciprinícola. A toupeira-de-água está estritamente dependente do corredor aquático e ripícola, no qual realiza todas as suas actividades vitais.
Biologia: Durante a Primavera, em plena época reprodutora, vivem aos pares ou isolados, sendo que o “home-range” médio dos machos é de 400 metros e das fêmeas de 300 metro, evitando a sobreposição de áreas com outros casais contíguos. Os machos permanecem mais tempo nos limites dos territórios, sendo que as fêmeas utilizam todo o território de um forma mais regular. Estudos recentes revelaram dispersões máximas de 2,7 km durante um único ciclo anual. A razão sexual é de 1:1 e é frequente existir descontinuidade entre populações, mesmo sem existir alteração significativa de habitat. É uma espécie que tem a sua actividade principalmente durante a noite.
Reprodução: O período de cio desta espécie é entre Janeiro e Maio e os partos dão-se de Março a Julho. O número de crias varia de um a cinco, sendo que o número mais frequente é de quatro crias por ninhada, podendo ter mais que uma criação por ano. A maturidade sexual só é atingida entre os seis meses e o ano de vida.
Alimentação: De hábitos maioritariamente nocturnos, a Toupeira-de-água passa a maior parte dos seus períodos de actividade procurando alimento no leito dos cursos de água. Alimenta-se quase exclusivamente de macroinvertebrados aquáticos bentónicos, maioritariamente tricópteros, plecópteros, efemerópteros e dípteros, revelando uma elevada especialização alimentar
Longevidade: A esperança média de vida desta espécie é estimada em três ou quatro anos
Curiosidades: Quando em repouso, procura abrigos nas margens, por exemplo em cavidades nas rochas, espaços entre raízes, etc.
Ameaças: A principal ameaça é a acção directa ou indirecta sobre a morfologia do curso de água, a estrutura do leito e margens, o regime hidrológico e a qualidade da água resultando na alteração da disponibilidade de alimento (essencialmente os macroinvertebrados aquáticos bentónicos) e de abrigos. Algumas espécies como a Lutra lutra, a Ardea cinerea, a Ciconia ciconia, o Nycticorax nycticorax, o Esox lucius ou mesmo a Tyto alba podem predar esta espécie, provocando uma redução significativa dos efectivos populacionais.
Medidas de conservação: Executar uma política de gestão dos cursos de água e implementar medidas de recuperação dos habitats da espécie, são duas medidas de conservação urgentes para esta espécie.
Estatuto de conservação:
Esta espécie possui estatuto de protecção (encontra-se incluída nos Anexos II e IV da Directiva Europeia dos Habitats) e tem a categoria de “Vulnerável” a nível nacional no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (LVVP) (Cabral et al., 2005) e a nível internacional na IUCN Red List of Threatened Species (UICN Red List).
Referências e Sites:
Cabral MJ (coord.), Almeida J, Almeida PR, Dellinger T, Ferrand de Almeida N, Oliveira ME, Palmeirim JM, Queiroz AI, Rogado L & Santos-Reis M (eds.) (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza. Lisboa. 660 pp.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Pelo Tâmega: morcegos e outros voos


Marco Fachada a anotar os dados biométricos dos morcegos capturados (foto: Luís Braz)

Creio que o vale do Tâmega tem sido um dos “enteados” da conservação da natureza em Portugal. Poderia aqui expor muitas razões, mas fico-me pela indiferença que este território tem tido ao longo dos anos, por parte da tutela, por parte das instituições de investigação, pela parte dos decisores, etc. Depois, como falta conhecimento em várias áreas, é fácil permitirem-se certas opções “estratégicas” para o país, mas adiante. No meio disto tudo, há excepções. Falemos então duma delas: o Paulo Barros anda há algum tempo a inventariar os morcegos do norte do país. Em 4 sessões de captura distribuídas por dois fins-de-semana, realizadas no vale do Tâmega, incluindo um ponto exactamente nas suas águas, foram capturados 43 individuos, distribuídos por 11 espécies, nomeadamente, Myotis daubentonii (n=15), Eptesicus serotinus (n=9), Pipistrellus pipistrellus (n=6), Hypsugo savii (n=3), Barbastella barbastellus (n=3), Nyctalus leisleri (n=2), Nyctalus noctula (n=1), Myotis nattereri (n=1), Pipistrellus pygmaeus (n=1), Plecotus auritus (n=1) e Plecotus austriacus (n=1). Se somarmos o conhecido Tadarida teniotis, temos então para o troço superior do rio Tâmega, pelo menos 12 espécies já confirmadas.
Nyctalus noctula capturado numa das sessões de armadilhagem realizadas no Alto Tâmega (foto Luís Braz)

Claro, falta saber muito sobre a sua distribuição e ecologia, mas somando às mais de 130 espécies de aves (só no troço a Norte de Chaves), as dezenas de répteis e anfíbios, as várias centenas de espécies de plantas, um número incontável de invertebrados (entre os quais libélulas e outros insectos classificados na Directiva Habitats), e vários mamíferos de presença confirmada, bem podemos dizer que para lá das áreas protegidas e da Rede Natura também há (muita) vida...


Texto da autoria de Marco Fachada

domingo, 8 de agosto de 2010

Saiu no Jornal


Barbastella barbastellus, uma das espécies capturas no Alto Tâmega

AQUI podem ver uma notícia que saiu no Jornal de Noticias de Domingo (08/08/2010), sobre uma das noites de captura de morcegos que realizei no Rio Tâmega em Chaves.