segunda-feira, 26 de abril de 2010

Blanus cinereus


Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Família: Amphisbaenidae
Género: Blanus
Espécie: Blanus cinereus (Vandelli, 1797)

Descrição:
A Cobra-cega é um réptil de aspecto vermiforme, sem membros, com um comprimento total de 26 a 28cm, de coloração rosa, arroxeada, cinzenta e todos os tons possíveis de castanho. A sua cabeça é triangular, separada do corpo por um sulco transversal e possui um focinho arredondado. Os seus olhos atrofiados (característica particular), são cobertos por escamas, visíveis apenas como dois pontos negros sob a pele. A cabeça e o corpo estão cobertos por escamas regularmente dispostas em filas longitudinais e de tamanho semelhante, podendo ter cerca de 110 a 134 anéis de escamas no corpo e 20 a 42 na cauda, o que lhe confere um aspecto segmentado. A extremidade da cauda é arredondada.
Dimorfismo sexual escasso, os machos podem atingir um comprimento total (cabeça-corpo) de 25,4cm e as fêmeas de 23,5cm. Foi também registada uma maior taxa de crescimento da altura da cabeça nos machos, durante a ontogenia.
Juvenil de aspecto e coloração semelhantes ao adulto.

Espécies similares:
Inconfundível, pelo seu aspecto geral e coloração normalmente rosa.

Distribuição:
Espécie endémica da Península Ibérica, onde está ausente apenas numa faixa contínua, situada norte, que engloba o extremo Noroeste de Portugal, a Cordilheira Cantábrica a os Pirenéus. Pode ser encontrada desde o nível do mar até aos 2000m na Serra de los Filabres (Almeria). Em Portugal a sua ausência devido a condicionantes climáticas parece limitar-se ao Extremo Noroeste do país, área abrangida pela região atlântica. A sua aparente ausência noutras áreas pode estar relacionada com características do meio, quer naturais (solos muito argilosos ou muito arenosos e ausência de pedras), quer humanas (e. g. exploração silvícola intensa e áreas urbanas). Estes locais sem observações podem reflectir uma ausência real mas também dificuldades de detecção. Encontra-se até aos 1000 na Serra de Santa Comba em Trás-os-Montes (Valpaços/Mirandela). Recentemente foi confirmada a sua presença nos concelhos de Gondomar e Vila Nova de Gaia, o que salienta a importância do corredor formado pelo vale do rio Douro (mais quente e seco do que os planaltos envolventes), como meio de conexão entre este núcleo e as regiões do interior (área principal de distribuição).

Biologia:
Esta espécie possui hábitos subterrâneos, embora possa ser encontrada á superfície, daí ser tão difícil de observar. Apresenta uma capacidade invulgar de escavar túneis, nos quais se pode deslocar em ambas as direcções devido às suas extremidades arredondadas, escavando a profundidades distintas ou colocando-se sob rochas de diferentes tamanhos e espessuras, a fim de alcançar a sua temperatura corporal óptima (19ºC a 24ºC). Tem actividade diurna e nocturna, e pode encontrar-se activa de Fevereiro a Novembro. O seu período reprodutor parece iniciar-se no inicio da Primavera no sul da P. Ibérica. As fêmeas colocam geralmente um ovo (1 a 2) de grandes dimensões (23,6-29,2mm de comprimento e 4,8-5,5mm de largura) no solo ou debaixo de troncos em decomposição. È um predador generalista e os seus padrões de selecção da dieta sugerem que é um “procurador activo” (“widely foraging”), consistindo a sua alimentação em formigas, larvas de insectos e outros artrópodes. Parece utilizar os sinais auditivos associados ao movimento para localizar as presas a grandes distâncias, e os sinais químicos e odoríferos para identificar e descriminar as mesmas a curtas distâncias. Os seus principais predadores são aves, répteis e até um anfíbio, o Sapo-comum (Bufo bufo).

Habitat:
Pode ser encontrada em galerias escavadas no solo e debaixo de pedras, onde procura calor para efectuar termorregulação. Ocupa principalmente as áreas de clima mediterrânico, encontrando-se associada a zonas quentes com uma certa humidade, em solos que pouco compactados, que permitam a escavação. São as características do substrato as que têm uma influência directa na selecção do microhabitat, tendo o coberto vegetal uma influência indirecta. O diâmetro das suas galerias é ajustado ao tamanho do seu corpo. Típica de baixas altitudes.

Curiosidades:
Na presença de perigo, quando não pode escapar pelos túneis, enrola o corpo sobre si mesma ou sobre algum objecto ao seu alcance, ou contorce-se violentamente. Possui autotomia da cauda a partir do quarto anel pós-cloacal. Pode também morder, mas não possui veneno e é totalmente inofensiva para o Homem.
È frequente apresentar albinismo parcial (numa população do sul da Galiza, 21,9% dos indivíduos observados (n=32) tinha albinismo parcial, (tendo já sido observado um individuo totalmente albino)), como o indivíduo aqui registado (foto em baixo). Apresenta fluorescência azul/verde quando iluminada com luz ultravioleta.

Conservação e ameaças:
Os seus hábitos subterrâneos e secretivos reduzem o impacte de algumas ameaças comuns a outras espécies de herpetofauna (atropelamento e perseguição humana).
A preservação da qualidade do solo é indispensável para a manutenção de populações viáveis. Deste modo as maiores ameaças relacionam-se com os povoamentos florestais de espécies exóticas; a agricultura industrializada que recorre a maquinaria pesada e a pesticidas e herbicidas em quantidades elevadas. A perda do mosaico paisagístico e empobrecimento dos locais de alimentação e abrigo também são factores importantes na diminuição da abundância desta espécie.

Estatutos de conservação:
Possui um estatuto de “Pouco Preocupante” (LC), quer a nível internacional (IUCN), quer em Portugal e Espanha.

Referências:
Ferrand de Almeida, N; Ferrand de Almeida, P; Gonçalves, H; Sequeira,F; Teixeira, J & F, Ferrand de Almeida. 2001. Guia FAPAS dos Anfíbios e Répteis de Portugal. FAPAS e Câmara Municipal do Porto. Porto. 249 pp.
Ribeiro, B. S. (2008): Blanus cinereus. Pp 164-165, in: Loureiro, A., Ferrand de Almeida, N., Carretero, M. A., & Paulo, O. S. (eds), Atlas dos Anfíbios e répteis de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Lisboa.

Bat's in the net

A época de capturas de morcegos deste ano está a aproximar-se (assim que o tempo estabilizar), e nada melhor do que fazer uma retrospectiva das capturas realizadas no ano de 2009. Depois de percorridos mais de 2500Km, 100 horas passadas ao relento (e muitas delas dentro de água), consegui realizar 29 pontos de amostragem (com capturas efectivas), distribuídos pelo Norte e Centro de Portugal Continental, nos quais foram capturados 225 indivíduos, de 18 espécies diferentes, que representam 75% das espécies existentes e consideradas actualmente para Portugal Continental.

Os resultados obtidos, permitiram a aquisição de novos dados para espécies com Informação Insuficiente (DD), assim como para as espécies com estatuto de ameaça (CR, VU, EN), e ainda a confirmação da presença do Myotis escalerai e do Myotis daubentonii morfotipo nathalinae para o Norte de Portugal Continental.

O número de capturas por espécie foi a seguinte:

Rhinolophus hipposideros VU (n=1)

Rhinolophus euryale CR (n=1)

Myotis bechsteinii EN (n=1)

Myotis myotis VU (n=7)

Myotis escalerai VU* (n=14)

Myotis emarginatus DD (n=4)

Myotis mystacinus DD (n=7)

Myotis daubentonii nathalinae LC (n=40)

Pipistrellus pipistrellus LC (n=33)

Pipistrellus kuhlii LC (n=5)

Pipistrellus pygmaeus LC (n=2)

Hypsugo savii DD (n=16)

Nyctalus leisleri DD (n=13)

Eptesicus serotinus LC (n=40)

Barbastella barbastellus DD (n=4)

Plecotus auritus DD (n=4)

Plecotus austriacus LC (n=28)

Miniopterus schreibersii VU (n=5)

* Estatuto considerado para o Myotis nattereri


Embora se fale muito na protecção de abrigos, quer de hibernação quer de reprodução, como medida de conservação para morcegos, os locais de “swarming” representam locais sensíveis e fulcrais para a conservação deste grupo faunístico. Apesar de muitos abrigos classificados como “de Importância Nacional para morcegos” possam ser locais de “swarming”, outros que não têm os critérios mínimos para a sua classificação, podem representar uma mais-valia para a conservação de morcegos. Deste modo, seria bom começarmos a pensar em incluir na listagem dos abrigos “de Importância Nacional para morcegos”, os abrigos que sejam locais de “swarming”, como por exemplo a mina de Vila Cova.

Não poderia escrever este post sem agradecer a todos aqueles que me fizeram companhia durante algumas das noite, nomeadamente ao Carlos Rodrigues, Diana Balsa, Hélia Gonçalves (mais a Luna e a Bolinha), Luís Braz, Joana Medeiros, João Gaiola, Paulo Travassos e ao meu tio Chico agricultor há mais de 50 anos pelas suas histórias de lobos, leirões e outros bichos que me contou enquanto esperava pelos morcegos. Um agradecimento especial à Estação Biológica de Doñana em particular ao Javier Juste e toda sua equipa pela confirmação genética de alguns exemplares. E finalmente a todas as Corujas que me fizeram companhia nas noites que passei sozinho.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Lampides boeticus


Identificação:
A Lampides boeticus é uma espécie de lepidóptero diurno da família LYCAENIDAE. Esta borboleta apresenta, na face inferior das asas, tons castanhos-claros, esbranquiçados e beges misturados em padrões irregulares. Também nesta face da asa posterior pode ser observado um ponto escuro orlado de colorações laranja e uma banda branca na região pós-mediana. A face superior apresenta um tom violeta profundo, os bordos marginais escuros e dois pontos negros orlados de branco. São também evidentes as fímbrias de cor branca.
Espécies similares:
Em Portugal, esta espécie poderá ser confundida com a Leptotes pirithous da qual se distingue por apresentar a, já referida, banda branca na face inferior da asa posterior.
Distribuição:
No nosso país esta espécie poderá ser observada em todo o território e parece ser uma espécie abundante. Na Europa é comum nas regiões do sul sendo rara no Reino-Unido o seu limite norte de distribuição parece ser o Norte da Alemanha. É uma espécie migradora que prefere locais quentes com altitudes máximas de 1000 metros.
Habitat:

Este lepidóptero pode ser encontrado em diversos habitats sempre com a presença de algumas leguminosas.
Alimentação:
A lagarta desta pode alimentar-se de várias espécies da família Fabaceae como as ervilheiras Pisum spp. ou os codeços Adenocarpus complicatus. Esta espécie associa-se com formigas, que vivem dentro das vagens das espécies das quais a borboleta se alimenta enquanto larva ou adulto.
Medias de conservação:
Sendo uma espécie vulgar e de ampla distribuição, esta espécie parece não necessitar de medidas direccionadas à sua conservação.
Dimensões:
A envergadura desta espécie está compreendida entre os 30 e os 35 milímetros.
Estatuto de conservação:
Em Portugal parece ser uma espécie comum e, em principio, não ameaçada.
Observações:
Esta espécie foi observada e fotografada no início de Agosto e em Outubro de 2009 na região de Urrós (conselho de Mogadouro) dentro dos limites do PNDI.
Referências e Sites:
Maravalhas, E. (ed.), 2003, As Borboletas de Portugal. Porto.
Tolman, T. e Lewington, R., 2008, Collins Butterfly Guide: The Most Complete Field Guide to the Butterflies of Britain and Europe, England.
Sariot, M.G.M., 1995, Mariposas Diurnas de la Provincia de Granada. Granada.
http://www.tagis.org/
http://www.eurobutterflies.com/
www.ukbutterflies.co.uk
www.butterfly-conservation.org

domingo, 18 de abril de 2010

Talpa occidentalis

Taxonomia:

Reino: Animalia

Filo: Chordata

Subfilo: Vertebrata

Classe: Mammalia

Ordem: Insectivora

Família: Talpidae

Género: Talpa

Espécie: Talpa occidentalis

Nome comum: Toupeira


As recordações mais antigas que tenho desta espécie, são do tempo que passei a percorrer os canais de rega à procura dos teus túneis (uma verdadeira dor de cabeça para quem regava, pois, os túneis desta espécie são capazes de desviar toda a água de um rego-da-pé) em quanto o meu pai regava o milho e as batatas, e as armadilhas que o meu avô colocava na horta para apanhar este bicharoco.

Mais recentemente, este ano, enquanto regressava de mais um dia de campo, tropecei numa toupeira que estava algo tonta no meio da estrada, lá encostei o carro para tirar o bicho da estrada e coloca-lo em local mais seguro, coisa que não consegui fazer sem levar uma valente dentada… coisas do ofício….

Identificação: As toupeiras são os únicos mamíferos europeus com vida tipicamente hipógea, à qual se adaptaram de uma forma muito eficaz, podendo passar debaixo da terra longos períodos, sem necessidade de ter que sair à superfície, que normalmente apenas o fazem em três tipos de situações: para beber no tempo de estio, durante a dispersão dos juvenis e na época de reprodução para a procura de parceiro(a).

A família das toupeiras distribui-se pela Europa e Norte da América, com 3 sub-famílias, 12 géneros e 31 espécie, das quais duas ocorrem na Península Ibérica: a Talpa europaeus (Linnaeus, 1758) e a Talpa occientalis (Cabrera, 1907), sendo que apenas a última tem distribuição no nosso território.

De corpo cilíndrico e compacto, esta espécie está dotada de umas patas posteriores poderosas, com uma orientação para o exterior de modo a facilitar a sua actividade escavadora. A sua pelagem é muito densa, geralmente de cor negra, contudo, por vezes também podem apresentar tonalidades prateadas, avermelhadas ou mesmo violeta.

O tacto é o sentido mais desenvolvido da toupeira, particularmente na ponta do seu focinho, no qual se encontram uns pêlos sensoriais chamados de vibrissas, que movem constantemente para detectar as suas presas. Muito embora o olfacto e o ouvido também sejam funcionais nesta espécie, este sentidos, não estão muito desenvolvidos, enquanto que a visão é um sentido que por não o utilizar, está atrofiado.

Espécies similares: Em Portugal não existem espécies similares ou que possam ser confundidas com estas.

Distribuição: Esta espécie é um endemismo ibérico, e é comum no nosso país, apresenta uma distribuição amplia de Norte a Sul de Portugal.

Habitat: Esta é uma espécie bastante ubíqua, podendo ser encontradas em qual tipo de habitat desde que o solo seja idóneo para a sua actividade escavadora.

Biologia: A sua actividade escavadora não cessa e as galerias que conduzem à cavidade onde se encontra o ninho, vai sendo cada vez maior. As galerias têm uma dimensão média de 5cm de largura e 4cm de altura, podendo somar mais de 150 metros de comprimento, contudo o comprimento médio das galerias é de 40-50 metros. A toupeira não é um animal social, quando se cruza ocasionalmente com um congénere, são disputadas ferozes lutas, durante a época do cio, estas, podem originam muitas vezes na morte de um dos envolvidos.

Reprodução: O macho da toupeira está activo antes da fêmea, o que ocorre normalmente entre Dezembro e Janeiro, a cópula acontece geralmente em Fevereiro e Março. Após uma gestão de 4 a 6 semanas, nascem 3 -5 crias nuas que pesam apenas 3,5 gramas. Os partos ocorrem numa cavidade no subsolo onde se encontra o ninho que é de forma quase esférica, podendo no máximo alcançar os 150cm de largura e os 50cm de altura, com paredes muito lisas, o ninho é composto por folhas, raízes e erva seca, onde coloca no seu interior as suas crias. Estas, são amamentadas durante 28 ou 35 dias, após este período começam a alimentar-se sozinhas.

Alimentação: A sua alimentação é baseada sobretudo em minhocas, que podem constituir 90 a 100% da sua dieta no Inverno, percentagem que baixa para 50% no Verão, esta espécie complementa o seu regime alimentar com pequenos repteis e roedores, ao qual adiciona raízes, tubérculos assim com alguns frutos

Longevidade: Atingem a maturidade sexual entre os 6 e 12 meses, e podem atingir os 5 anos de idade, contudo o normal é não superarem os 3 anos de vida.

Curiosidades: A toupeira tem um metabolismo muito elevado, o que o obriga a consumir elevadas quantidades de alimento, por dia é capaz de comer o equivalente a 50 ou 100% do seu peso (imaginem ter que comer diariamente pelo menos metade do vosso peso!!!!). Esta espécie, se estiver mais de 24 horas sem comer morre, alguns autores referem que as fatalidades podem ocorrer a partir das 10 ou 12 horas sem se alimentar.

Ameaças: Devido à sua actividade hipógea, raramente são incluídos na dieta de outros animais, contudo podem ser consumidos por texugos, raposas e rapinas nocturnas. O homem é considerado o principal inimigo natural e histórico, que vê nesta espécie, um indesejável visitante dos seus campos.

Estatuto de conservação:

De acordo como o Livro Vermelho de Vertebrados de Portugal (LVVP), a toupeira é um Endemismo Ibérico e está classificado como “Pouco preocupante”.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Cicconia cicconia azul

Numa pequena aldeia da Alemanha, chamada de Biegen, onde normalmente não se passa nada, é agora um sítio de atracção turística para os ornitólogos, visto que na chaminé mais alta desta aldeia nidifica uma Cegonha branca, mas de cor azul!

O certo é que entre discussões e conversas, a famosa cegonha converteu-se numa estrela, se a sua plumagem é natural ou acidental, é o que menos importa, o importante é que a torna singular.

Podem ver um pequeno filme desta raridade AQUI.