quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Víbora-cornuda - Vipera latastei (Boscá, 1878)

Víbora-cornuda fotografada na Serra de Montesinho.

Quis a sorte que se tornasse na mais malfadada espécie de Serpentes (e mesmo de Répteis) de Portugal. Odiada quer pelo seu aspecto, quer pela sua mordedura (que pode ser prejudicial para o Homem), cobiçada pela sua cabeça, que pode servir como amuleto de boa sorte no lar e pelo seu veneno, que serve os mais variados propósitos na medicina popular e na bruxaria. Os inúmeros mitos e “lendas” de que é alvo fazem da Víbora-cornuda uma das espécies mais emblemáticas da herpetofauna portuguesa.


Vipera latastei (Boscá, 1878)

Filo: Chordata

Classe: Reptilia

Ordem: Squamata

Família: Viperidae

Género: Vipera

Espécie: Vipera latastei

Nome comum: Víbora-cornuda (Esp.- Vibira hocicuda, Ing. – Lataste’s viper)


Morfologia:
È uma víbora de pequeno tamanho, com corpo robusto e cauda curta, que pode atingir um máximo de 70 cm de comprimento. O seu dorso é coberto por escamas carenadas. Uma das características particulares do seu género é ter uma cabeça bem diferenciada do corpo, de contorno triangular e com placas cefálicas muito fragmentadas. Esta espécie distingue-se facilmente por ter a extremidade do focinho proeminente (apêndice nasal), com 3 a 7 escamas (geralmente 5). A sua pupila é vertical e a íris é amarela ou dourada. Possui também 2 a 3 séries de pequenas escamas debaixo do olho. 


A coloração de fundo do seu dorso varia entre o cinzento e o castanho. O desenho é formado por uma banda dorsal escura disposta em ziguezague. Na parte posterior da cabeça normalmente existem duas manchas escuras que formam um “V” invertido. Os flancos podem apresentar manchas arredondadas escuras. O ventre é de cor branca ou cinzenta com algumas manchas irregulares. 



Foi possível distinguir duas subespécies através de diferenças na morfologia externa: Vipera l. latastei (presente no Norte de Portugal até ao norte do rio Mondego e o Centro e Leste de Espanha, descendo até à Serra Nevada) e Vipara l. gaditana (Saint-Girons, 1977) (ocupando o Sudoeste da Península Ibérica e extremo Norte de África de Marrocos à Argélia). 

O dimorfismo sexual é pouco acentuado, apresentando os machos uma cauda ligeiramente mais larga e mais comprida, a seguir à cloaca, e uma coloração dorsal cinzenta, enquanto nas fêmeas essa coloração é acastanhada. O aspecto e coloração dos juvenis são semelhantes ao dos adultos embora as cores e desenhos nos juvenis possam ser mais contrastados, devido às constantes mudas de pele. Os recém-nascidos medem entre 15 e 20 cm de comprimento.


Espécies semelhantes:
A Víbora de Seoane (Vipera seoanei), distinguindo-se desta por ter o focinho mais proeminente e a cabeça mais triangular. A Cobra-de-água-viperina (Natrix maura) que não tem as placas cefálicas subdivididas, a pupila vertical e o focinho proeminente.


Biologia:
È uma espécie de hábitos diurnos, podendo apresentar actividade crepuscular ou nocturna nos meses mais quentes. A temperatura corporal necessária à actividade situa-se entre os 17 e 3ºC. A duração do seu período de hibernação varia de acordo com a altitude e a latitude. No final da época de reprodução, que tem início na Primavera e termina no final do Verão, a fêmea dá à luz entre 5 a 8 crias, uma vez que se trata de uma espécie ovovivípara. Pode também apresentar uma segunda época de actividade reprodutiva no Outono (Setembro-Outubro). Pode atingir uma longevidade de 9 anos, embora só atinja a maturidade sexual quando o comprimento corporal ronda os 30 a 40 cm. A sua dieta baseia-se maioritariamente em micromamíferos, mas pode capturar também outros répteis de pequeno tamanho, pequenos anfíbios, passeriformes e insectos. Pode ser predada por aves de rapina, mamíferos carnívoros e outras cobras de maior tamanho. Embora opte geralmente pela fuga quando ameaçada, também pode soprar e morder. Outra das características deste grupo de serpentes (Viperidae) é possuírem uma dentição Selenoglifa, isto é, possuem um par de dentes inoculadores de veneno situados na região anterior do maxilar superior. Produz um veneno com características proteolíticas ou necrosantes, o que significa que provoca uma acção citotóxica directa nos tecidos orgânicos e consequente destruição dos mesmos. Os sintomas dependem de vários factores como o local da mordedura, a quantidade de veneno injectado, o estado de saúde idade e condição física da pessoa mordida. Assim pode ocorrer geralmente uma dor súbita, intensa e a formação de um edema. Poderão surgir outros sinais como ansiedade, hipotensão, hipertermia, dores abdominais, náuseas, vómitos, diarreia e alterações cardíacas. A morte pode ocorrer no caso de as vítimas serem crianças ou idosos. Em caso de mordedura o mais correcto é colocar a vítima em repouso e contactar o Centro de Informação Antivenenos (CIAV) através do 112, e encaminhá-la para observação médica.


Habitat:
Trata-se de uma espécie típica de clima mediterrânico estando associada a zonas rochosas secas de montanha, com cobertura arbustiva, mostrando preferência pelas vertentes mais expostas, viradas a sul. Pode ocorrer também em zonas de menor altitude, em matagais, áreas agrícolas, e clareiras de bosques de folhosas, coníferas e bosques mistos. A altitude máxima registada em Portugal foi de 1500m nas Serras da Estrela e Gerês, tendo sido registada a cerca de 2780m em Espanha.


Distribuição:
Esta espécie encontra-se no norte de África, desde o norte de Marrocos ao norte da Algéria e extremo noroeste da Tunísia. Acredita-se que está possivelmente extinta na Tunísia, uma vez que neste país não foram registados quaisquer indivíduos nos últimos 55 anos. Na Península Ibérica apresenta uma população fragmentada, mas está presente no centro e sul de Espanha e em Portugal. Parece estar ausente nas zonas mais humanizadas, de modo que os seus núcleos populacionais no nosso país se encontram essencialmente nas serras da Peneda, Gerês, Alvão, Montesinho, Caramulo, Buçaco, Montemuro, Estrela, Malcata, Serra d’Aire e Candeeiros, Montejunto, Sintra, S. Mamede Ossa, Adiça, Barrancos, Monchique, Espinhaço de Cão, península de Setúbal, margem esquerda do Guadiana, Douro Internacional e outras populações litorais isoladas.


Conservação e ameaças:
A mortalidade por atropelamento e a sua captura para coleccionismo são as principais causas da diminuição populacional em Portugal. Mas a baixa mobilidade desta espécie e uma frequência reprodutora trienal, contribuem também para uma fraca recuperação em zonas degradadas pela pressão humana.


Estatutos de conservação:

LVVP e IUCN - "Vulnerável" (VU)


Referências e sites:

The IUCN Red List of Threatened Species: Vipera latastei

Brito, J. C. (2010): Vipera latastei. Pp. 182-183, in: A. Ferrand de Almeida, N. Carretero, M. A. & Apulo O. S. (coords.), “Atlas dos anfíbios e répteis de Portugal”.
Esfera do Caos Editores, Lisboa. 256 pp.


Almeida, Ferrand de N., Almeida, Ferrand de P., Gonçalves, H., Sequeira, F., Teixeira, J., Almeida, Ferrand de F. (2001). Anfíbios e Répteis de Portugal. Guias FAPAS. Porto. 249 pp.

1 comentário:

Unknown disse...

Hola, me gustaría incluir este ejemplar de Vipera latastei en mi web: www.viborasdelapeninsulaiberica.com si les parece bien.
Gracias,
Juan Timms (email: juantimms@hotmail.com)

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