domingo, 27 de junho de 2010

Cerambyx cerdo



Quem anda no campo está sempre sujeito a tropeçar em bichos, mesmo que não sejam espécies que estejamos à espera. Foi o caso deste Cerambyx cerdo ssp. mirbecki no qual tropecei na Reserva da Faia Brava, quando me preparara a colocar um morcego (Plecotus austriacus) num sobreiro, que tinha capturado uns minutos atrás.

Taxonomia:
Reino: Animalia
Classe: Insecta
Ordem: Coleoptera
Família: Cerambycidae
Género: Cerambyx
Espécie: Cerambyx cerdo, Linnaeus, 1758
Subespécies: Cerambyx cerdo mirbecki, Lucas, 1842

Habitat
Espécie típica de sobreirais e carvalhais húmidos ibéricos, as suas larvas foram descritas por Ratzeburg em 1839 e desenvolvem-se nas partes morta de espécies arbóreas de Quercus, podendo também encontrar-se em espécie como Castanea, Betula, Salix, fraxinus, Ulmus, Juglans, Fagus, Robinia. Os adultos voam ao entardecer entre as árvores que lhe servem de alimento, podem-se ser observados entre Maio e Agosto.
Reprodução:
Os ovos são depositados entre Junho e Setembro, nas feridas e outras fendas do tronco e ramos das árvores. As larvas eclodem poucos dias depois da postura e o seu desenvolvimento dura 31 meses, sendo o primeiro ano passado na zona cortical, perfurando depois a madeira, onde escava uma série de galerias que debilitam a árvore e podem provocar a sua morte. As larvas desenvolvem-se ao longo de três a cinco anos e passam por cinco estádios larvares. A fase de pupa ocorre entre final do Verão e o Outono e dura 5-6 semanas. Os adultos hibernam, só surgindo no Verão seguinte para se reproduzir. Espécie predominantemente crepuscular-nocturna, o que dificulta a sua detecção. No médio mediterrâneo podem ser também observados ao durante o dia.
Distribuição
O Cerambyx cerdo apresenta uma distribuição euroasiática, contudo a subespécie mirbecki, localiza-se exclusivamente na área mediterrânica ocidental. Em Portugal é uma espécie difundida por todo o território nacional. No Sul está associada à distribuição de Quercus suber e Quercus rotundifolia.
Alimentação:
As larvas são xilófagas, consumindo madeira velha ou morta. Os adultos alimentam-se da seiva de feridas recentes e de frutos maduros.
Ameaças:
A principal ameaça do Cerambyx cerdo está associada à perda de habitat. Curiosidades:
Embora esta espécie seja predominantemente crepuscular-nocturna, não é raro serem encontrados indivíduos em plena luz do dia. Esta espécie parecer ser atraída pela luz ultra violeta. As fêmeas podem por mais de 300 ovos.
Dimensões:
As larvas chegam a atingir 9-10 cm, assim como o adulto.
Estatuto de conservação:

Esta espécie encontra-se no Anexo BII e BIV da Directiva Habitat, sendo de interesse comunitário, cuja conservação exige protecção rigorosa e a sua área de ocorrência exige a designação de zona especial de conservação. Encontrando-se ainda incluída nos anexos III da Convenção de Berna.
Referências e Sites:
Vives, E. (1996). Coleoptera Cerambycidae. Fauna Ibérica. C.S.I.C.. Museo de Ciencias Naturales de Madrid.
Luce JM (1997). Cerambyx cerdo Linnaeus, 1758. In: Background information on Invertebrates of the Habitats Directive and the Bern Convention. Part I - Crustacea, Coleoptera and Lepidoptera. Pp 22-26. Helsdingen PJ, Willemse L, Speight MCD (eds.). Nature and Environment, nº 79. Council of Europe. 

domingo, 13 de junho de 2010

Nyctalus Lasiopterus

O Morcego-arboricola-gigante é um espécie que pelo seu tamanho nos impõe respeito e que nos enche a não, ao contrário de algumas outras espécies (e.g. Pipistrellus sp.) que nos conseguem escapar por entre os dedos.

Identificação:

O Nyctalus lasiopterus é o maior morcego Europeu, muito robusto com cabeça forte e orelhas amplas. Tem pêlo denso, relativamente longo e unicolor, sendo castanho-avermelhado no dorso e castanho-escuro no ventre. No machos os pêlos do pescoço, são particularmente longos, fazendo lembrar as jubas do leões eriçando-se quando agitados. As áreas desprovidas de pêlo são pretas ou castanhas, as asas são muito longas com pelos castanhos na parte inferior.

Espécies similares:

Pelo seu tamanho, em Portugal não existem espécies passíveis de serem confundidas com o Nyctalus lasiopterus.

Ecolocalização:

Acima dos 28ms, quase sempre com frequência constante e emissões baixas, entre os 14 e 23kHz. Em área abertas os chamamentos longos entre 17 e 20 kHz são claramente audíveis ao ouvido humano.

Distribuição:

Na Europa tem uma distribuição ampla mas muito fragmentada. Em Portugal a informação relativamente a esta espécie é bastante escassa, contudo é provável que ocorra em todo o território nacional mas com densidades baixas e bastante fragmentada.

Habitat:

O Morcego-arborícola-gigante é uma espécie florestal aparentemente associada a florestas de folhosas bem desenvolvidas, nas zonas montanhosas a sua preferência passa por espécies resinosas. Os jardins e parques com plátanos podem constituir também habitat para esta espécie. Os poucos abrigos conhecidos são em castanheiros, abetos e plátanos, podendo também ocuparem caixas-abrigos ou mesmo fendas em grandes minas.

Reprodução:

Em Espanha foram encontrados abrigos de criação com mais de 80 animais, constituído unicamente por fêmeas, em alguns países os abrigos de criação pode ser partilhado com os Nyctalus leisleri e noctula, durante o verão os machos encontram-se separados ou em pequenos grupos. As fêmeas ficam prenhes no inicio do Outono, ainda não é claro se ter gémeos é normal ou não nesta espécie. As crias nascem no início de Junho e pesam 9-10 gramas, os seus antebraços medem 26-27mm.

Alimentação:

A sua dieta alimentar baseia-se basicamente em grandes insectos, como traças, odonatas e escaravelhos que caça em zonas abertas. A presença de restos de aves nas fezes desta espécie foi confirmada muito recentemente na Itália, Espanha e Grécia.

Mobilidade:

Alguns indivíduos parecem realizar longas distâncias, a ausência de fêmeas no Verão na Grécia e a sua presença no Inverno, indica pelo menos migrações sazonais.

Medidas de conservação:

Preservação de florestas de montanha com elevada proporção de árvores adultas, assim como a preservação de sobreirais e árvores velhas em galerias ripícolas.

Dimensões:

Tem um comprimento de antebraço (FA) que varia entre 61,0- 70,0 mm e tem um peso de 35-53 g. Podendo atingir os 50 cm de envergadura.

Estatuto de conservação:

Esta espécie de acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal é classificada como “Informação insuficiente” (DD), não existindo até à data informação adequada para avaliar o risco de extinção, nomeadamente quanto à redução do tamanho da população e à tendência de declínio. Esta espécie encontra-se no Anexo BIV da Directiva Habitat, sendo de interesse comunitário, cuja conservação exige protecção rigorosa. Encontrado-se ainda incluída nos anexos II da Convenção de Berna e Bona.

Referências e Sites:

Dietz, C., O. V. Helversen & D. Nill (2009). Bats of Britain, Europe & Northwest Africa. A & C Black Publishers Ltd.

Dondini, G. & S. Vergari (2000). Carnirory in the greater noctule bat (Nyctalus lasiopterus) in Italy. J. Zool. 251: 233-236.

M. Uhrin, P. Kaˇnuch, P. Benda, E. Hapl, H.D.J. Verbeek, A. Kristín (2006). On the greater noctule (Nyctalus lasiopterus) in central Slovakia, Vespertilio 9 (10) 183–192.

Livro Vermelho de Portugal

Sabes

Porque é que os morcegos hibernam?

Foto de Rhinolophus ferrumequinum em periodo de hibernação


A Hibernação, ao contrário do que muita gente pensa, é uma adaptação à falta de alimento que ocorre nos meses mais frios do ano, esta adaptação, permite aos morcegos conservar a sua energia e sobreviver a partir das reservas da gordura acumulada durante os meses antecedentes à hibernação. Os períodos de hibernação dos morcegos variam de região para região, por exemplo no Norte de Portugal a hibernação é muito mais longa do que mo Sul, podendo em alguns casos ser muito curta, já que em algumas zonas os Invernos são muito suaves e permitem manter uma actividade de insectos durante quase todo o ano.



Os morcegos não são cegos?

Foto de Nyctalus noctula


A palavra morcego etimologicamente significa rato-cego e deriva do latim “muris - rato” + “ceaculus - cego”, todavia, ao contrário da crença popular, os morcegos têm uma visão muito sensível, possivelmente melhor que a dos humanos em meios com pouca luz. Podem perfeitamente voar e identificar as suas presas por meio da visão, contudo a necessidade evolutiva deste grupo a meios escuros fez com que desenvolvessem um sexto sentido – a ecolocalização- o qual utilizam preferencialmente para a sua movimentação e alimentação.