terça-feira, 6 de abril de 2010

Erinaceus europaeu

Taxonomia:

Reino: Animalia

Filo: Chordata

Subfilo: Vertebrata

Classe: Mammalia

Ordem: Erinaceomorpha

Família: Erinaceidae

Subfamília: Erinaceinae

Género: Erinaceus

Espécie: Erinaceus europaeus

Nome comum: Ouriço-cacheiro


Muito embora já tivesse visto várias vezes esta espécie atropelada, a primeira vez que tive contacto com um exemplar vivo, foi no final de uma noite de Verão quando descia da Serra do Alvão, que muito timidamente se deixou estar imóvel na berma de uma estrada, disponibilizando-nos (a mim, à Joana e ao Luís) o privilégio de o observar, fotografar e tocar pacientemente.

Identificação: O ouriço é provavelmente o mamífero mais fácil de identificar, pelo facto de ter a zona dorsal coberta de espinhos (cerca de 6 mil), que não são mais que pêlos modificados. Estes pêlos, bastante aguçados, têm entre 2 a 3 cm. O ouriço-cacheiro é maior insectívoro da nossa fauna, com um comprimento do corpo entre 18 a 20 cm e cerca de 1 kg de peso máximo, sendo o valor mais habitual os 700 g. A sua coloração é parda, mas ou menos escuro, dependendo dos indivíduos, mas o seu ventre é sempre esbraquiçado. Não têm dimorfismo sexual, visto que os testículos dos machos são intra-abdominais, a principal diferença é que o pénis está bastante avançado, enquanto a vagina se encontra muito próxima do ânus. As fêmeas têm cinco pares de mamas, dois peitorais, dois abdominais e dois inguinais. A fórmula dentária é: 3.1.3.3/2.1.2.3.

Espécies similares: Na Península Ibérica a única espécie similar é Atelerix algirus (apenas presente em Espanha), menos robusto, mais claro, com as orelhas proporcionalmente maiores.

Distribuição: Presente em quase toda a Europa Central e Ocidental, à excepção das zonas boreais e montanhosas da Península Escandinava. Pode ser também observado nos Países Bálticos como a Finlândia e a Estónia. O seu limite Oriental de distribuição é a zona mais Ocidental da polónia, Áustria, Republica Checa e Eslovénia. Em Portugal o ouriço é uma espécie abundante, com distribuição generalizada de norte a sul do país. Foi ainda introduzida nos Açores.

Habitat: Embora o ouriço tenha hábitos nocturnos, a sua observação é relativamente fácil principalmente ao amanhecer e ao anoitecer, perto de lagos ou rios, onde vai beber água e tomar pequenos banhos. Esta espécie ocupa uma variedade elevada de tipos de habitats, desde de zonas abertas de matos a zonas mais fechadas florestadas. Também é muito comum ocupar meios semi-urbanos, incluindo jardins. Em zonas mediterrânicas pode ser observado em zonas montanhosas, mas húmidas.

Biologia: Quando os recursos alimentares escasseiam e a descida da temperatura se acentua, o ouriço-cacheiro hiberna. Em Portugal este comportamento apenas é verificado em zonas de maior altitude, de clima marcadamente continental. Os animais antes de hibernar engordam para terem energia suficiente para o período de hibernação, durante o qual ocorrem uma série de alterações: os indivíduos baixam a sua temperatura de 35ºC para 9ºC; sua respiração diminui drasticamente (respirando 1 a 10 vezes por minuto); o ritmo cardíaco passa de 190 para 20 batimentos por minuto. Estando mais vulnerável a predadores enquanto hiberna, esta espécie escolhe buracos onde faz o seu ninho, que normalmente é em troncos de árvores, no solo ou em rochas. As construções humanas podem também fornece-lhe abrigos.

Reprodução: O período reprodutor estende-se desde Abril a Agosto, sendo fácil de notar os rituais de acasalamento, pois macho e fêmea andam cerca de uma hora em volta um do outro, enquanto vão fazendo um ruído semelhante ao resfolegar. Depois da cópula, o macho abandona a fêmea e só a ela cabe a responsabilidade de criar os jovens. Depois de 35 dias de gestação a fêmea dá à luz dois a seis crias, cegas e desprovidas de pêlo, pesando 10 a 25 gramas. As crias abrem os olhos a partir da segunda semana de idade e começam a sair fora do ninho à terceira, a partir dos 30-45 dias de idade deixam de mamar e começam a ser independentes. Normalmente cada fêmea apenas tem uma criação por ano, mas se houver disponibilidade suficiente podem ter uma segunda gestação. A mortalidade é elevada durante o primeiro ano de vida (até 70%), mas depois deste período a sobrevivência é elevada. A sua maturação sexual é atingida ao fim de um ano de idade.

Alimentação: Alimenta-se de todo o tipo de invertebrados, principalmente insectos e minhocas, que constituem cerca de 50% da sua dieta alimentar, podendo alimentar-se ainda de lesmas e caracóis, não rejeita ovos, pintos de aves, crias de roedores. Também come peixe, até porque é um excelente nadador.

Longevidade: Têm uma longevidade máxima de 7 a 10 anos, vivendo em média 4 a 5 anos

Curiosidades: Quando se sente ameaçado, enrola-se sobre si próprio, escondendo as suas pequenas patas e as áreas sem espinhos, e transforma-se numa “bola com picos”, bastante difícil de penetrar.

Ameaças: A principal ameaça parece ser a mortalidade provocada pelo atropelamento. Não foi comprovada nenhuma tendência regressiva e é abundante na sua área de distribuição. Não obstante, a redução de habitat poderá constituir uma ameaça para a espécie.

Medidas de conservação: Reduzir a utilização de insecticidas em zonas agrícolas. Gestão de áreas agrícolas com a manutenção de corredores ecológicos. Implementação de passagem para a fauna em “pontos negros” de rodovias.

Estatuto de conservação: De acordo como o Livro Vermelho de Vertebrados de Portugal (LVVP), o ouriço-cacheiro está classificado como “Pouco preocupante” (LC), fazendo parte do anexo III da Convenção de Berna.

Referências e Sites: Cabral MJ (coord.), Almeida J, Almeida PR, Dellinger T, Ferrand de Almeida N, Oliveira ME, Palmeirim JM, Queiroz AI, Rogado L & Santos-Reis M (eds.) (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza. Lisboa. 660 pp.

Livro Vermelho de Espanha

4 comentários:

Luís Braz disse...

É a espécie de mamífero que mais encontro atropelada nas estradas, em qualquer tipo de estrada... Será, devido à sua abundância e ao facto de ser uma espécie noctívaga (movimentando-se durante um período de difícil visibilidade), que quando se sente ameaçada imobiliza-se (confiando na sua "carapaça" espinhosa), em vez de escapar correndo...?

Paulo Barros disse...

Ao contrário dos anfíbios em que a mortalidade é divido ao facto de terem que atravessar as estradas durante as migrações, no caso do ouriço, está descrito que a elevada mortalidade desta espécie nas estradas tem a ver com questões fisiológica, sendo esta uma espécie que hiberna e de hábitos noctívagos, utiliza muito o calor que é acumulado durante o dia e é libertado durante a noite para se aquecer. Da mesma maneira que os répteis, só que durante o dia.

kerplunk disse...

Esta espécie,apesar dos contra-tempos que lhos impomos,ainda consegue ser bem sucedida visto que comem um pouco de tudo.Aqui nos Açores também há muitos,apesar de terem sido introduzidos.Contribuirão então para novos equilíbrios ecológicos,visto que aparentemente não causam impactes negativos?

Paulo Barros disse...

Os equilíbrios ecológicos na sua maioria, são assegurados por espécies e organismos autóctones, a introdução de espécie, mesmo que aparentemente não provoque impactes negativos, podem provocar alterações significativas nos equilíbrios ecológicos e tróficos (não estou a dizer que é o caso do ouriço nos Açores), o exemplo mais emblemático é sem dúvida a introdução de 24 coelhos na Austrália, espécie que aparentemente não causaria impactes e que se tornou numa praga, tendo sido necessário tomar medidas de controlo (mixomatose), a qual se repercutiu em todo mundo, em Portugal a introdução destes coelhos na Austrália afectou indirectamente espécie como o lince e águias.

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