A primeira vez que tive oportunidade de ver esta Ferreirinha rechonchuda, espécie invernante no nosso País, foi durante uma saída à Serra da Estrela para observar Gralhas-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax). A Serra encontrava-se totalmente coberta com neve e depois de passar pela Lagoa Comprida e quase a chegar à Torre, eis… que vejo um passarito a saltitar entre a neve e as rochas. Depois de parar o carro tirar uns binóculos e máquina fotográfica, fiquei uns 30 minutos a observar esta ave que fez o favor de se aproximar para eu poder tirar umas fotos onde se pudesse ver todos os pormenores da sua plumagem.
Descrição:
A Prunella collaris, é um pouco maior que a congénere a Prunella modularis (Ferreirinha) e mais grisalha na sua plumagem, tem um dorso cinzento claro com lista escuras, as suas asas são arredondadas, castanhas e as penas grandes de cobertura alares têm uma franja preta com as pontas brancas. A cauda e cabeça desta espécie são de cor cinzenta, mas a cabeça apresenta umas tonalidades mais claras, tem faces escuras, a garganta é cinzenta clara (esbranquiçada) com contorno escuro. O seu bico é fino com a base de cor amarela e as zonas inferiores do seu corpo são constituídas por plumagem cinzenta com flancos arruivados.
Espécies similares:
A Prunella collaris, pertence à Ordem dos Passariformes, Sub-ordem dos Passeri, Super-família dos Passeroidea, Família Prunellidae e ao Género Prunella. Actualmente para a Europa são reconhecidas 6 espécies do género Prunella das quais apenas uma nidificam em Portugal: a Prunella modularis (ferreirinha).
Distribuição:
A ocorrência desta espécie, restringe-se a zonas bastantes limitadas como sendo a Serra da Estrela, da Peneda, Gerês e cabo da Roca, existindo ainda observações registadas para zonas como do Cabo Espichel, Barragem de Santa Luzia, Portas de Rodão, Serra de Sintra, Arrábida, Montejunto e castelo de Marvão (link desta informação).
Habitat:
Os registos desta espécie no nosso país correspondem a observações de indivíduos invernantes de pequenos núcleos populacionais em habitats de montanhas de altitude, em particular na Serra da Estrela. Não sendo nidificante em Portugal, no resto da Europa esta espécie na maioria das situações nidifica em encostas montanhosas rochosas entre os limites arborizados e zonas de neves permanentes.
Biologia:
É uma ave discreta e tímida e em alguns casos até nos surpreende pousado ou alimentando-se muito próximo de nós e com um carácter curioso. Nidifica entre Maio e Agosto em buracos ou fendas de afloramentos rochosos ou debaixo de estas, constroem um ninho com base em ervas e folhas secas, onde põe 3-4 ovos de cor azul-claro, a sua incubação é de 15 dia realizada tanto pelo macho como pela fêmea, 16-17dias após o nascimento as crias deixam o ninho. A sua alimentação é baseada em insectos e sementes que procura sempre no solo. Esta espécie tem uma longevidade máxima de 5 anos.
Conservação e ameaças:
Em Portugal a ferreirinha-alpina encontra classificada como Quase Ameaçada (NT), de acordo como o Livro Vermelho dos Vertebrados a espécie tem uma população reduzida (inferior a 1.000 indivíduos maturos).
A perturbação humana, quer através de actividades de montanhismo, depostos de inverno (em especial esqui) e a hotelaria pode constituir um factor de ameaça nas zonas de invernada. Nos Países onde nidifica, o principal factor de ameaça é a perturbação do seu habitat de nidificação.
Curiosidades:
Na serra de Gredos em Espanha existem registos predação desta espécie por parte do Doninha (Mustela nivalis).
Esta espécie tem a particularidade de criar em pequenos núcleos (3-5 machos e 2-3 fêmeas), aumentando assim a defesa do seu território, defesa dos ninhos perante possíveis predadores e cooperação na alimentação dos juvenis.
Referências e sites:
Marti R, Perales JA, Gomez Manzaneque A (1986) Notes on the diet of Alpine Accentor (Prunella collaris Scop.) nestlings in the Sierra de Gredos, Central Spain (in Spanish). Ardeola 33:189–195.
Heer L. (1996) Cooperative Breeding by Alppine Accentors Prunella Collaris: Polygynandry, Territoriality and Mutiple Paternity. Journal of Ornithologie 137.