sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Prunella collaris

A primeira vez que tive oportunidade de ver esta Ferreirinha rechonchuda, espécie invernante no nosso País, foi durante uma saída à Serra da Estrela para observar Gralhas-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax). A Serra encontrava-se totalmente coberta com neve e depois de passar pela Lagoa Comprida e quase a chegar à Torre, eis… que vejo um passarito a saltitar entre a neve e as rochas. Depois de parar o carro tirar uns binóculos e máquina fotográfica, fiquei uns 30 minutos a observar esta ave que fez o favor de se aproximar para eu poder tirar umas fotos onde se pudesse ver todos os pormenores da sua plumagem.

Descrição:

A Prunella collaris, é um pouco maior que a congénere a Prunella modularis (Ferreirinha) e mais grisalha na sua plumagem, tem um dorso cinzento claro com lista escuras, as suas asas são arredondadas, castanhas e as penas grandes de cobertura alares têm uma franja preta com as pontas brancas. A cauda e cabeça desta espécie são de cor cinzenta, mas a cabeça apresenta umas tonalidades mais claras, tem faces escuras, a garganta é cinzenta clara (esbranquiçada) com contorno escuro. O seu bico é fino com a base de cor amarela e as zonas inferiores do seu corpo são constituídas por plumagem cinzenta com flancos arruivados.

Espécies similares:

A Prunella collaris, pertence à Ordem dos Passariformes, Sub-ordem dos Passeri, Super-família dos Passeroidea, Família Prunellidae e ao Género Prunella. Actualmente para a Europa são reconhecidas 6 espécies do género Prunella das quais apenas uma nidificam em Portugal: a Prunella modularis (ferreirinha).

Distribuição:

A ocorrência desta espécie, restringe-se a zonas bastantes limitadas como sendo a Serra da Estrela, da Peneda, Gerês e cabo da Roca, existindo ainda observações registadas para zonas como do Cabo Espichel, Barragem de Santa Luzia, Portas de Rodão, Serra de Sintra, Arrábida, Montejunto e castelo de Marvão (link desta informação).

Habitat:

Os registos desta espécie no nosso país correspondem a observações de indivíduos invernantes de pequenos núcleos populacionais em habitats de montanhas de altitude, em particular na Serra da Estrela. Não sendo nidificante em Portugal, no resto da Europa esta espécie na maioria das situações nidifica em encostas montanhosas rochosas entre os limites arborizados e zonas de neves permanentes.

Biologia:

É uma ave discreta e tímida e em alguns casos até nos surpreende pousado ou alimentando-se muito próximo de nós e com um carácter curioso. Nidifica entre Maio e Agosto em buracos ou fendas de afloramentos rochosos ou debaixo de estas, constroem um ninho com base em ervas e folhas secas, onde põe 3-4 ovos de cor azul-claro, a sua incubação é de 15 dia realizada tanto pelo macho como pela fêmea, 16-17dias após o nascimento as crias deixam o ninho. A sua alimentação é baseada em insectos e sementes que procura sempre no solo. Esta espécie tem uma longevidade máxima de 5 anos.

Conservação e ameaças:

Em Portugal a ferreirinha-alpina encontra classificada como Quase Ameaçada (NT), de acordo como o Livro Vermelho dos Vertebrados a espécie tem uma população reduzida (inferior a 1.000 indivíduos maturos).

A perturbação humana, quer através de actividades de montanhismo, depostos de inverno (em especial esqui) e a hotelaria pode constituir um factor de ameaça nas zonas de invernada. Nos Países onde nidifica, o principal factor de ameaça é a perturbação do seu habitat de nidificação.

Curiosidades:

Na serra de Gredos em Espanha existem registos predação desta espécie por parte do Doninha (Mustela nivalis).

Esta espécie tem a particularidade de criar em pequenos núcleos (3-5 machos e 2-3 fêmeas), aumentando assim a defesa do seu território, defesa dos ninhos perante possíveis predadores e cooperação na alimentação dos juvenis.

Referências e sites:

Marti R, Perales JA, Gomez Manzaneque A (1986) Notes on the diet of Alpine Accentor (Prunella collaris Scop.) nestlings in the Sierra de Gredos, Central Spain (in Spanish). Ardeola 33:189–195.

Heer L. (1996) Cooperative Breeding by Alppine Accentors Prunella Collaris: Polygynandry, Territoriality and Mutiple Paternity. Journal of Ornithologie 137.

Vermelho dos Vertebrados de Portugal


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Colias croceus


Identificação:

A Colias croceus é um lepidóptero diurno da família PIERIDAE que é também a família das sobejamente conhecidas Borboletas-das-couves Pieris brassicae. Esta borboleta apresenta, na sua face inferior das asas, tonalidades maioritariamente amareladas a esverdeadas apresentando, na asa posterior, um distintivo conjunto de círculos brancos orlados por uma linha de tons acastanhados.

A face superior das asas apresenta igualmente coloração amarelada ou alaranjada com bandas marginais de tonalidades negras. Na asa posterior pode ser facilmente observado um círculo de tom laranja intenso. A fêmea pode ser distinguida do macho já que apresenta um tamanho ligeiramente superior e apresenta manchas amarelas na banda marginal da face superior das asas. A lagarta desta espécie apresenta tonalidade maioritariamente verde com uma evidente linha longitudinal de tom claro.

Espécies similares:

Em Portugal, esta espécie dificilmente poderá ser confundida com qualquer outra.

Distribuição:

No nosso país esta espécie poderá ser observada em todo o território e parece ser uma espécie abundante. Esta espécie perece ser bastante sensível a temperaturas baixas pelo que se acredita que esta espécie não será residente na região norte.

Esta espécie poderá ser encontrada nos países do centro e sul da Europa, no norte de África, no médio oriente, Ásia central e a sul dos montes Urais. Esta espécie realiza marcadas migrações estabelecendo populações migratórias em Países como o Reino Unido, a Escócia ou Irlanda.

Habitat:

Esta borboleta pode ser observada em diversos habitats sendo bastante associada a áreas abertas com bastantes flores com a presença de espécies de trevo ou luzerna.

Alimentação:

A lagarta desta espécie alimenta-se de várias espécies da família Fabaceae como a Luzerna Medicago sativa ou várias espécies de Trevo Trifolium sp. Os adultos alimentam-se do néctar de espécies como o Dente-de-Leão Taraxacum sp., cardos do género Centaurea ou mesmo de espécies de plantas aromáticas como o Orégão-vulgar Origanum vulgare.

Medias de conservação:

Sendo uma espécie vulgar e de ampla distribuição, esta espécie não parece necessitar de medidas direccionadas à sua conservação.

Dimensões:

A envergadura desta espécie está compreendida entre os 45 e os 55 milímetros.

Estatuto de conservação:

Em Portugal parece ser uma espécie comum e, em principio, não ameaçada.

Observações:

Esta espécie foi observada e fotografada no início de Agosto de 2009 na região de Picote (conselho de Miranda do Douro) dentro dos limites do PNDI e no início de Outubro de 2009 em S. Joanico no conselho de Vimioso.

Referências e Sites:

Maravalhas, E. (ed.), 2003, As Borboletas de Portugal. Porto.

Tolman, T. e Lewington, R., 2008, Collins Butterfly Guide: The Most Complete Field Guide to the Butterflies of Britain and Europe, England.

Sariot, M.G.M., 1995, Mariposas Diurnas de la Provincia de Granada. Granada.

http://www.tagis.org/

http://www.eurobutterflies.com/

www.ukbutterflies.co.uk

www.butterfly-conservation.org

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Alytes cisternasii


Em criança, as minhas colecções de autocolantes de banda desenhada (não posso deixar de referir o Dartacão!), cedo foram substituídas pelo coleccionismo de observações de animais. E até agora, permanece o especial interesse em observar “bichos”…que se mexam…
Com a sorte de poder ter experiências profissionais de Norte a Sul do país, sempre anseio um encontro, mesmo que fugaz, com uma criatura diferente. Todas as espécies me encantam, mas não há nada como um primeiro encontro…
Acabada de chegar do Norte, ansiava ver os espécimes “novos” do Sul. Depois de um duro dia de trabalho de campo, já ao recolher da jornada, no Monte da Estrada (Odemira), fui presenteada por um Sapo-parteiro-ibérico. Não foi propriamente um encontro. O meu pai é que o descobriu por baixo de umas pedras. Sempre “teve olho” para “cuscar” a bicharada, provavelmente é daí que vem o meu gosto. Lá estava o belo exemplar, o Cavalo-marinho dos anfíbios…perdoem-me os meus colegas pela aberração que acabei de dizer, mas foi o que me veio à cabeça pelo facto do macho exercer cuidados parentais que habitualmente cabem à fêmea. Tão tímido e discreto como o sabem fazer tão bem os anfíbios. Por momentos apeteceu-me beijá-lo, não fosse às vezes transformar-se em príncipe… mas atempadamente me lembrei que se carregasse com ele filhos machos, poderiam transformar-se todos ao mesmo tempo em muitos príncipes o que seria bem mais complicado do que um só…
Identificação:
Sapo de aspecto robusto, cabeça larga e grande, comparativamente com o tronco que é curto e largo. Olhos grandes, proeminentes, pupila vertical e íris dourada com pigmentação negra. Membros anteriores curtos e robustos com quatro dedos (o quarto é de pequeno tamanho). Possui dois tubérculos palmares bem visíveis. Dorso esbranquiçado ou beje, com manchas mais escuras castanhas, cinzentas ou esverdeadas. Pequenas verrugas avermelhadas ou alaranjadas típicas no dorso, que se podem prolongar até aos olhos.
Espécies similares:
O Sapo-parteiro-comum é uma espécie semelhante. Ao contrário do Sapo-parteiro-ibérico, a sua distribuição em Portugal é praticamente contínua em toda a região Norte e Centro até ao rio Tejo (apresentando distribuição fragmentada numa zona litoral desde o Baixo Vouga até Sintra). Distinguem-se, por exemplo, pelo facto do Sapo-parteiro-ibérico apresentar dois tubérculos palmares e o Sapo-parteiro-comum, três.
Distribuição:
É uma espécie endémica do Centro e Sudoeste da Península Ibérica e em Portugal apresenta uma distribuição praticamente contínua a Sul do rio Tejo (excepto península de Setúbal e pequena orla do litoral algarvio).
Habitat:
Ambientes áridos e quentes, e zonas de baixa e média altitude. Prefere zonas de solos arenosos ou pouco consistentes, habitualmente em zonas abertas e planas.
Reprodução:
Ocorre no Outono e na Primavera, altura em que os machos cantam à noite. Após fecundação, os machos enrolam os cordões de ovos nos membros posteriores. O mesmo macho pode transportar a postura de várias fêmeas. Após 3 semanas de incubação, os machos deslocam-se até uma massa de água e os ovos eclodem de forma sincronizada. As larvas completam a metamorfose em 3 a 5 meses.
Alimentação:
Os adultos capturam presas vivas: formigas, caracóis, escaravelhos e aranhas. As larvas alimentam-se essencialmente de matéria vegetal e de invertebrados aquáticos.
Comportamento:
De hábitos nocturnos, embora possa apresentar actividade diurna em dias chuvosos ou nublados. Nos meses de temperaturas mais extremas pode permanecer inactivo refugiando-se em buracos escavados por si ou naturais e debaixo de pedras.
Ameaças e medidas de conservação:
As principais ameaças são a alteração e destruição dos habitats onde possa ocorrer a espécie, e a presença de predadores introduzidos. As medidas de conservação passam pela preservação de charcos e ribeiros de pequena e média dimensão.
Dimensões:
Tamanho geralmente inferior a 4,5 cm. As fêmeas alcançam tamanho ligeiramente superior ao dos machos.
Estatuto de conservação:
A nível nacional apresenta estatuto de conservação “Pouco Preocupante”.
Curiosidades:
É conhecido como “parteiro” pelo facto de ser o macho quem transporta os ovos nas costas, até que estejam prestes a eclodir, altura em que os deposita na água. A. cisternasii terá divergido das restantes espécies de Alytes há cerca de 16 milhões de anos.
Referências e Sites:
Pedro Beja, Jaime Bosch, Miguel Tejedo, Miguel Lizana, Iñigo Martínez-Solano, Alfredo Salvador, Mario García-París, Ernesto Recuero Gil, Jan Willem Arntzen, Rafael Marquez, Carmen Diaz Paniagua 2008. Alytes cisternasii. In: IUCN 2009. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2009.2.
Gonçalves, H. (2008): Alytes cisternasii. Pp. 104-105, in: Loureiro, A., Ferrand de Almeida, N., Carretero, M. A. & Paulo, O.S (eds.), Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal, Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Lisboa.
Ferrand de Almeida, N., Ferrand de Almeida, P., Gonçalves, H., Sequeira, F., Teixeira, J. & Ferrand de Almeida, F. (2001). Anfíbios e Répteis de Portugal. Guias Fapas, Câmara Municipal do Porto – Pelouro do Ambiente, Porto.
http://www.iucnredlist.org/
http://forum.netxplica.com/
http://naturlink.sapo.t/

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A arte da camuflagem

Foto de Discoglossus galganoi (Rã-de-focinho-pontiagudo) tirada em 04/06/2009 na Serra do Caramulo.


Os anfíbios têm um leque de cores muito variado, alguns são de cores vivas outros de tons mais monótonos. Esta variedade de cores deve-se à concentração ou dispersão dos grânulos de pigmentos presentes nos cromatócitos que determinam a intensidade das cores, esta dispersão ocorre por acção de várias hormonas e neurotransmissores. Alguns anfíbios tem a capacidade de mudar de cor ou padrão, esse comportamento pode ajudar a ajustar a temperatura do corpo, assim como mecanismo de defesa e camuflagem judando-os a passar despercebidos por predadores.

Sabia que a camada de pele da Hyla arborea tem pigmento amarelo que ao reflectir a cor azul, produz a cor verde que observamos.