quinta-feira, 18 de maio de 2017

Moscas, para que vos queremos?


É certo que as moscas não são o grupo de animais que mais interesse desperta à generalidade das pessoas, principalmente agora que as temperaturas começam a subir. No entanto, este grupo de insetos assume, em muitos casos, um papel extremamente importante no equilíbrio e funcionamento dos ecossistemas. 

fly, mouche

É importante perceber que o grupo artificial a que chamamos moscas, é, na realidade, constituído por espécies que nem sempre são verdadeiramente moscas. As verdadeiras moscas são insetos da ordem Díptera (com dois pares de asas) e da família Muscidae que se identificam pelas suas antenas de três segmentos sendo o segmento apical plumoso. Este grupo é extremamente diverso estando descritas cerca de 4000 espécies e mais de 100 géneros.

fly, mouche

Embora sejam mais conhecidas por serem “chatas” e pelas doenças que podem transmitir aos humanos, do ponto de vista ecológico este grupo de insetos desempenha alguns serviços essenciais nos nossos ecossistemas.

fly, mouche


Por exemplo, as moscas são, a par das abelhas, um dos principais insetos polinizadores sendo assim responsáveis pela frutificação de inúmeras espécies de plantas selvagens ou agrícolas.

fly, mouche

Quando as suas larvas se alimentam de, por exemplo, carne em decomposição, embora não seja muito agradável, estão a contribuir decisivamente para correto funcionamento do ciclo de nutrientes.

fly, mouche, Sarcophaga haemorrhoidalis

Também do ponto de vista científico, este grupo tem sido importante quer seja enquanto modelo experimental (por exemplo o género Drosophila utilizado em tantos estudos genéticos) ou enquanto ferramenta de determinação da data de morte, que tantas vemos em séries de investigação criminal.


fly, mouche


De uma perspetiva um pouco diferente também podemos pensar na importância deste grupo enquanto alimento de outras espécies como peixes (ex. truta), mamíferos (ex. morcegos) répteis ou diversas espécies de aves. 


fly, mouche

fly, mouche

sábado, 6 de maio de 2017

Um fungo, duas realidades

 Myotis blythii infetado com Pseudogymnoascus destructans

Atualmente uma das maiores ameaças para a biodiversidade faunística é a emergência de doenças e infeções, que na maioria das vezes são causados por distúrbios antropogénicos que contribuem substancialmente para esses surtos de doenças e infeções. Grande parte dos agentes patogénicos da fauna selvagem, são de origem bacteriológica ou viral, embora poucas espécies de fungos causam doenças graves em mamíferos devido à sua elevada temperatura corporal e ao seu sistema imunitário eficaz, atualmente as infeções fúngicas têm tido uma atenção especial.
Myotis blythii infetado com Pseudogymnoascus destructans

No que respeita aos quirópteros, o fungo Pseudogymnoascus destructans (antes designado de Geomyces destructans) é o agente causador da síndrome do nariz branco (WNS - sigla do Inglês White-Nose Syndrome). Considerada uma epidemia de grandes proporções e encarada atualmente como uma das maior ameaça para os morcegos da América do Norte, o WNS é responsável por um declínio sem precedentes nas populações de morcegos. Este fungo, combina algumas das piores características epidemiológicas possíveis, incluindo ser um agente patogénico altamente virulento, ter um reservatório ambiental natural, ser persistente de longo prazo em abrigos de hibernação e poder ter múltiplos hospedeiros (indivíduos e espécies).
Myotis blythii infetado com Pseudogymnoascus destructans


A maioria dos morcegos em regiões temperadas entram em hibernação sazonal, tempo em que reduzem sua taxa metabólica e diminuem a temperatura corporal até se aproximar da temperatura ambiente do abrigo de hibernação, o que pode alterar a resposta imunológica a agentes patogénicos, deste modo durante a hibernação, os morcegos estão vulneráveis à infeção pelo fungo Pseudogymnoascus destructans, que emergiu como um novo agente patogénico no leste da América do Norte em 2006, onde até à já matou mais de 7 milhões de morcegos! Os estudos realizados na Europa têm demonstrado um elevado grau de endemicidade deste fungo nos morcegos europeus, os dados sugerem uma tolerância por parte dos morcegos a este fungo, entrando numa interação equilibrada entre hospedeiro e agente patogénico e por isso não causando mortalidades significativas. Contudo, qualquer alteração em qualquer um das variáveis deste equilíbrio pode desencadear uma mudança drástica neste complexo sistema hospedeiro e agente patogénico. Embora a origem do WNS na América do Norte permanece desconhecida, esta discrepância na virulência (mortalidade) entre os dois continentes, têm apontado para uma introdução (humano e acidental) do continente europeu para o continente Norte Americano.