O Myotis bechsteinii é uma das espécies de morcegos mais raras que ocorrem em Portugal e em densidades muito baixas. As suas colónias reprodutoras são de pequena dimensão, variando entre 10-30 fêmeas reprodutoras. Embora seja uma espécie eminentemente florestal e em particular ligada a florestas de folhosas bem desenvolvidas (em especial de carvalhos e castanheiros), o facto do Morcego de Bechstein (Myotis bechsteinii) se tratar de uma espécie altamente sedentária com deslocações muito reduzidas faz com que esta espécie possa ser encontrada em pequenas bolsas residuais de folhosas no meio de outros habitats menos adequados. Por outro lado, tem uma população muito fragmentada, resultado da perda de habitat florestal e aliada aos seus hábitos muito sedentários, dificulta a sua expansão e ocupação de novas áreas de distribuição. De facto as espécies termófilas como o Myotis bechsteinii foram mais abundantes durante o holoceno quando os bosques mistos e temperados abundavam no nosso território, atualmente esta espécies encontra-se em regressão e a sua distribuição está cada vez mais limitada aos habitats residuais desse período.
terça-feira, 25 de setembro de 2018
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
Borboleta-caveira (Acherontia atropos)
Quando passamos a noite no monte, a probabilidade de ver ou ouvir seres que são mais conspícuos é maior, ocasionalmente, surgem algumas surpresas, foi o caso desta borboleta-caveira, que ficou presa nas redes que estavam montadas para a captura de morcegos.
A borboleta-caveira (Acherontia atropos) apresenta a parte superior das asas anteriores castanhas escuras como salpicos de cinzentos e um ponto branco de cada lado, as faces inferiores são amarelas como duas linhas negras. O abdómen é amarelo e de tons azulados, segmentado por linhas negras, contudo a característica distintiva mais evidente desta enorme borboleta noturna (que pode atingir os 15 cm de envergadura) é a figura de uma caveira que ostenta no seu abdómen.
Esta é uma espécie migratória que pode percorrer varias centenas de km ou mesmo alguns milhares desde do norte de Africa até ao continente Europeu. Podendo ser observada a grandes altitudes (registo máximo é de 3100 m de altitude).
domingo, 12 de agosto de 2018
Apontamentos fugazes: beber ou não beber
Os
morcegos, da mesma foram que emitem zumbidos de alimentação (feeding buzz) ou zumbidos de pouso (landing buzz) para caçarem ou pousarem,
para beberem também emitem zumbidos (drinking
buzz), embora estruturalmente diferentes podem ser frequentemente
confundidos, sendo que estes últimos não apresentam a fase II típica dos feeding buzz.
Outra
curiosidade dos drinking buzz é que é
possível verificar se o morcego bebeu ou se apenas foi uma tentativa, o que normalmente
ocorre algumas vezes antes de beberem efetivamente.
drinking buzz de Pipistrellus pipistrellus com contato como a água (o morcego bebeu)
drinking buzz de Pipistrellus kuhlii sem contato com a água (o morcego não bebeu)
sábado, 30 de junho de 2018
Diálogo entre mãe & cria
Estudos realizados durante 3 anos entre o fim junho e meados de agosto, que
coincide como os primeiros voos dos juvenis e dispersão das colónias de
maternidade, onde são observados “voos em tandem” entre mãe e filho(a), revelaram
que existem chamamentos sociais típicos e distintivos dos juvenis em particular
no género Pipistrellus, que são constituídos por apenas um pulso.
Este tipo de pulsos são inicialmente de frequência modulada (FM), tomando
depois uma forma de frequência quase-constante (QCF), para depois tomar uma
modulação ascendente e em alguns casos (não neste da imagem) é finalizada como uma parte de frequência
constante (CF).
Mãe e cria de Pipistrellus pygameus em "voo tandem" socializando
quinta-feira, 21 de junho de 2018
Apontamentos fugazes: morcego-rabudo (Tadaria teniotis)
O morcego-rabudo (Tadaria teniotis)
é uma espécie de distribuição Paleártica, comum em toda a área mediterrânica, em
particular em Portugal, Espanha, toda a franga do sul da Europa até aos Balcãs,
Turquia, Israel, Palestina e Jordânia. No norte da África, a sua presença é
confirmada em Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egito. Em Portugal, em áreas
de habitat adequado é uma espécie relativamente comum. As suas colónias são
muito variáveis, podendo ser de poucos indivíduos até algumas centenas. É uma espécie
eminentemente sedentária mas de grande mobilidade circadiana, que se alimenta
em espaços abertos, a várias dezenas ou mesmo centenas de metros acima do solo,
sobre espaços temperados e/ou semi-áridos, assim como zonas húmida (e.g. por
cima de grandes massa de água), onde caça espécies á deriva ou levadas por
massa de ar, em particular lepidópteros.
Poderão
saber mais detalhes sobre esta espécie AQUIquarta-feira, 25 de abril de 2018
Armadilhas de harpa
As armadilhas de harpa são dispositivos usados para capturar morcegos, ao contrário das redes de capturas não é necessidade de desenredar os morcegos. De uma forma resumida, o seu funcionamento é interromper o voo dos morcegos e força-los a cair sem que haja lesões para o animal.
Assim os morcegos voam em direcção à armadilha e este reconhece as linhas de nylon com cerca de 2,5 cm de distância entre si. Com a agilidade que é reconhecida nos morcegos, estes voam perpendicularmente ao solo entre as linhas, contudo um segundo conjunto de linhas distanciado cerca de 15 cm da primeira, faz com que seja inevitável embatem nelas e deslizam por estas até à bolsa de acondicionamento. Como esta bolsa de acondicionamento é feita de polietileno espesso e escorregadio, os morcegos não conseguem subir, contudo esta bolsa tem uma tela de serapilheira acondicionado com polietileno onde os morcegos se mantêm pendurado e acomodados.
Embora visualmente podem parecer dispositivos que possam ser colocadas em espaços abertos, as armadilhas de harpa apenas são efectivas quando colocadas em locais de afunilamento e confinados (saídas de abrigos, túneis de vegetação, locais de passagens estreitas, etc…).
Provavelmente as duas maiores vantagens deste tipo de armadilhas são: 1) a possibilidade de serem deixados por longos períodos de tempos sem que seja necessária a sua verificação (já que tem uma bolsa de acomodamento de morcegos); 2) capturar um número elevada de morcegos. Esta ultima vantagem, é de facto uma das premissas quando se quer capturar morcegos onde prevemos um elevado fluxo de animais, visto que a utilização de redes pode por em causa os animais.
As armadilhas de harpa comerciais têm vários modelos, que variam basicamente na sua dimensão (1m2 a 5m2) e no número de painéis de filamento (2, 3 ou 4), sendo que também se podem construir manualmente, neste caso o modelo fica ao critério de quem as construir e do seu objectivo.
sábado, 24 de fevereiro de 2018
Hibernação dos morcegos
A principal razão
pelo qual os morcegos hibernam é fundamentalmente para minimizar o gasto
energético. Pelo que acumulam gordura durante o verão e outono de modo a podem
passar o inverno, quando o alimento escasseia ou é mesmo indisponível.
Os maiores
perigos ou custos da hibernação é a exposição a predadores e algumas restrições
fisiológicas, nomeadamente a diminuição da resposta imunológica e da síntese proteica.
O torpor de inverno não é contínuo, os morcegos podem minimizar esses custos
fisiológicos, diminuindo os períodos contínuos de hibernação, contudo a taxa de
esgotamento das reservas de energia (gordura) é determinada pela taxa
metabólica que depende da temperatura corporal e do torpor, assim, a
interrupção da hibernação dos morcegos faz parte de um equilíbrio energético
entre custos e benefícios, que têm que ser muito bem ponderado!
A interrupção do
torpor, e consequentemente os padrões de atividade de inverno dos morcegos
estão diretamente ligados às condições meteorológicas prevalecentes, em
particular as temperaturas, que influenciam fortemente os padrões circadianos e
o estado de torpor, que normalmente coincidem com uma maior disponibilidade de
insetos voadores.
Myotis myotis
Rhinolophus ferrumequinum
Myotis myotis
Rhinolophus hipposideros
Rhinolophus euryale
Myotis escalerai
Pipistrellus pipistrellus
Pipistrellus pipistrellus
Myotis escalerai
Miniopterus schreibersii
Rhinolophus euryale
Rhinolophus ferrumequinum
Rhinolophus ferrumequinum
sábado, 3 de fevereiro de 2018
Atividade de morcegos no Inverno
Foi
recentemente publicado um artigo sobre actividade de quirópteros no Inverno,
intitulado “Winter activity of bats in Mediterranean peri-urban deciduous
forests”, do qual deixo aqui o resumo
Resumo:
“Embora
os quirópteros da família dos Vespertilionidae hibernem durante o inverno para
minimizar o gasto de energia nos meses mais frios, nas regiões temperadas as
interrupções no torpor podem ser bastante frequentes. O objetivo do nosso
estudo, foi realizar uma caracterização preliminar dos padrões de atividade de quirópteros
durante o Inverno em florestas de folhosas periurbanas mediterrâneas do Norte
de Portugal. A atividade de quirópteros foi registada entre Novembro e
Fevereiro e a deteção de pulsos de navegação de morcegos foi regularmente
detectada nas noites mais quentes, com temperaturas acima de 4,6 ° C, nos meses
de novembro (89,9%), dezembro (3,7%) e fevereiro (6.4%) e sem atividade
detectada em janeiro. As espécies mais registradas foram Pipistrellus pygmaeus,
P. pipistrellus e P. kuhlii.A atividade de socialização concentrou-se
principalmente em novembro (96,8%), raramente em fevereiro (3,2%) e ausente em
dezembro e janeiro. Em relação ao melhor modelo, obtido pelo método do Modelo
Múltiplo de Inferência (MMI) para explicar a variação das passagens de morcego,
os principais fatores que influenciaram positivamente foram o período noturno da
monitorização e a temperatura, com influência negativa, a precipitação
registrada nas 48 horas antecedentes à monitorização revelou ser significativa.
Relativamente à actividade de socialização, as variáveis que demostraram ter
influências positivas significativa foram: a humidade, temperatura e velocidade
do vento e com influência negativa, a precipitação registrada nas 48 horas
antecedentes à monitorização. Os resultados deste estudo aportam uma base
preliminar promissora para os estudos de atividade de quirópteros na época de
hibernação, demonstrando que as condições meteorológicas atuais e as que
prevaleceram nas últimas 48 horas podem desempenhar um papel importante na
interrupção de torpor dos quirópteros.Com a finalidade de melhorar a
conservação deste grupo faunístico, deverão ser desenvolvidos esforços na
investigação acústica de inverno para uma compreensão completa dos padrões de
atividade de morcegos, com objectivo de enfrentam os potenciais impactos das
alterações climáticas globais que se espera que ocorram na região do
Mediterrânica.”
Quem
estiver mais interessado pode descarregar e ler o artigo completo AQUI
terça-feira, 2 de janeiro de 2018
Campanha "Discover the mammals of Europe"
Você sabia que o conhecimento de 33% dos mamíferos na Europa é deficiente e os estudos até agora realizados são insuficiente para perceber o seu estado de conservação? Na verdade, em alguns dos casos nem sequer sabemos se já estão extintas ou não.
Muito se tem feito para melhorar o seu estado de conservação, contudo não é suficiente e pode ser feito ainda mais. Por isso, a campanha "Discover the mammals of Europe" convida todos os que queira participara para uma sinergia de esforços.
O objetivo principal desta campanha é criar uma Rede Europeia de Mamalogistas que trabalhe para uma melhorar a conservação de mamíferos na Europa. Deste modo qualquer pessoa (em nome individual) ou organização (em nome colectivo) pode juntar-se e participar nesta campanha.
Como pretende esta campanha atingir esse objetivo?
1. Convidar e envolver as pessoas e/ou organizações que trabalham na investigação e/ou conservação de mamíferos;
2. Facilitar o fortalecimento da comunidade de investigação e/ou conservação de mamíferos;
3. Melhorar a consciencialização dos políticos (de conservação) e o público em geral sobre os mamíferos europeus e as medidas necessárias para melhorar as suas opções sobrevivência.
Você quer fazer parte desse movimento pan-europeu de conservação de mamíferos? Deseja compartilhar seus conhecimentos, problemas, sucessos e resultados com a comunidade de mamíferos na Europa?
Se sim, poderá fazê-lo da seguinte maneira:
- Divulgando o logotipo da campanha que pode descarregar AQUI, e o site da própria campanha www.discovermammals.org
- Preencher este formulário e deixar que outras pessoas na Europa possam saber sobre o que está a trabalhar;
- Sugerir com ideia válidas para desenvolver mais esta campanha;
- Assinar a newslette da campanha;
- Fazer gosto na página de Facebook da campanha, ou partilhe informações e/ou notícias no Facebook group;
- Apoie monetariamente a campanha com uma doação.
sábado, 25 de novembro de 2017
domingo, 22 de outubro de 2017
Tempo de lavar os sacos
O
bom tempo está acabar e a atividade dos morcegos está a diminuir cada vez mais e
mais rapidamente, até entrarem em hibernação. Em modo de encerramento da época
de capturas, faremos uma curtíssima resenha sobre os trabalhos de capturas realizados
este ano.
Assim,
foram amostradas 13 quadrículas UTM 10X10 (4 das quais novas quadrículas
amostradas), distribuídas por 8 concelhos, desde Bragança a Castanheira de Pêra
que permitiram capturar 17 espécies:
Rhinolophus euryale
Rhinolophus hipposideros
Myotis bechsteinii
Myotis blythii
Myotis emarginatus
Myotis escalerai
Myotis myotis
Myotis mystacinus
Pipistrellus kuhlii
Pipistrellus pipistrellus
Pipistrellus pygmaeus
Hypsugo savii
Nyctalus leisleri
Eptesicus serotinus
Barbastella barbastellus
Plecotus auritus
Plecotus austriacus
Pipistrellus kuhlii
Nyctalus leisleri
Barbastella barbastellus
Nyctalus leisleri
Myotis mystacinus
Myotis daubentonii
Barbastella barbastellus
Miniopterus schreibersii
domingo, 1 de outubro de 2017
Porque é que os morcegos dormem de cabeça para baixo?
Quando se fala sobre morcegos como os mais pequenotes, uma das perguntas mais frequente é:
Porque é que os morcegos dormem de cabeça para baixo?
De
facto, para os humanos dormir de cabeça para baixo é incompreensível. Então qual
é a principal razão pela qual estas criaturas optaram por passar o dia dormindo
de cabeça para baixo e passarem todo o inverno nesta postura? A principal razão
é para diminuir a possibilidade de predação, esta posição é uma estratégia evolutiva que permite escolher locais altos ou pouco acessíveis onde os predadores terrestres não são
capazes de aceder. Esta postura tem outras vantagens para evitar predação, entre as quais, poderem entrar em voo muito rapidamente, visto que estando em locais altos,
apenas têm que se deixar cair para entrarem em voo.
Outra
pergunta que a pequenada faz é: eles não se cansam de estarem pendurados de
cabeça para baixo?
Contrariamente
à grande maioria dos animais, incluindo os seres humanos, que temos que fazer
força para fechar as extremidades dos nosso membros, os tendões dos morcegos
sofreram adaptações de tal maneira que a postura de estarem pendurados não
requer qualquer gasto de energia ou força, já que o seu próprio peso faz como
que a exterminada dos dedos dos pés fechem por intermédio de um tendão adaptado
para o efeito. Deste nodo, a postura de pendurado de cabeça para baixo não
requer qualquer contração muscular e esta adaptação é tão eficaz, que muitas vezes são encontrados morcegos mortos nesta posição.
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