Mostrar mensagens com a etiqueta Micromamíferos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Micromamíferos. Mostrar todas as mensagens

domingo, 8 de novembro de 2015

Confirmação da ocorrência do Chionomys nivalis em Portugal


Chionomys nivalis, foto de Paulo Barros

Resumo
O rato-das-neves (Chionomys nivalis) é um roedor da família dos Cricetidae com uma distribuição ampla, desde do Sul da Europa até ao Turcomenistão mas muito fragmentada, estando associado principalmente a sistemas montanhosos. A confirmação desta espécie em Portugal foi possível pela análise de características morfológicas, biométrica e genéticas de dois indivíduos capturados na Serra de Montesinho (Parque Natural de Montesinho, Nordeste de Portugal). Para a confirmação genética desta espécie foram utilizados marcadores Mitocondriais e nucleares. A análise do Citocromo b suporta conclusões anteriores sobre a estrutura fitogeográfica desta espécie, revelando a existência de várias linhagens distintas. Além disso, mostra que os espécimes portugueses estudados estão intimamente relacionados com os de outras populações ibéricas. Esta descoberta é de grande interesse, uma vez que aporta novas informações sobre a distribuição do rato-das-neves, nomeadamente a redefinição do seu limite Sudoeste de distribuição e a necessidade de uma avaliação precisa das tendências populacionais de mamíferos a nível regional e o seu estado de conservação.
Chionomys nivalis, foto de Gonçalo Rosa
Abstract
The European snow vole (Chionomys nivalis) is a microtine rodent with a highly fragmented distribution range, mostly associated with the main mountain systems from southern Europe to Turkmenistan. In this paper we confirm the occurrence of the snow vole in Portugal, based on morphologicalcharacteristics, biometrics and genetic analysis of two individuals captured in the Montesinho Mountain range (northeastern Portugal). Both mitochondrial and nuclear genetic markers were used to confirm the species identity. The analysis of cytochrome b supports previous conclusions on the phylogeographic structure of the species, revealing the existence of several distinct lineages. Moreover, it shows that the Portuguese specimens are closely related to the other Iberian populations. This finding is of great interest as it adds new information regarding the spatial distribution of the snow vole, by redefining the southwestern limits of the species’ range, and it highlights the need for accurate assessment of regional small mammal population trends and conservation status.

Distribuição do Chionomys nivalis (fonte: IUCN)

Para quem tiver interesse pode descarregar o artigo completo na barra lateral direita deste bolg.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Rato-do-campo-de-rabo-curto



Vole, Wühlmäuse, topillo, campanols
 Microtus agrestis

O Rato-do-campo-de-rabo-curto (Microtus agrestis) é um arvícola de tamanho médio (20-50 gr) e de aspeto robusto, com focinho arredondado e cauda relativamente curta. A sua pelagem é de tom cinzento-escuro no dorso e mais pálida nos flancos, podendo em alguns caso ter tons amarelentos. As patas, garganta e ventre são geralmente esbranquiçadas ou cremosas em adultos mais velhos. Mudam a pelagem entre estações frias e quentes, sendo que nas estações frias têm uma pelagem mais densa e fina. Têm seis almofadas palmares nos pés e quatro mamas, duas peitorais e duas inguinais.


Vole, Wühlmäuse, topillo, campanols
 Microtus agrestis

O seu habitat é preferencialmente constituído por prados e pastagens densas com pouca pressão pastoril, podendo também ocorrer em plantações florestais com sub-coberto herbáceo bem desenvolvido. É mais frequente em zonas de montanha, margens pedregosas de linha de água e zonas húmidas de pastos e juncais. Contudo, a presença de uma cobertura herbácea densa é requisito fundamental para a sua presença, já que é uma espécie herbívora muito seletiva, com preferência por rebentos, folhas e caules tenros de herbáceas, podendo comer também sementes de dicotiledóneas e em menor percentagem bolbos. Ocasionalmente durante o inverno e na falta de outro alimento, pode roer a casca da base de pequenas árvores e comer pequenos invertebrados como insetos.

Vole, Wühlmäuse, topillo, campanols
 Microtus agrestis

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Toupeira-de-água, aguaneiro ou desman

 Toupeira-de-água capturada durante um campo de trabalho científico realizado no Courel (Galiza)

 A Toupeira-de-água (galemys pyrenaicus) é um micromamífero semi-aquático endémico da Península Ibérica. Os seus requisitos bio-ecológicos tornam esta espécie num excelente bioindicador da qualidade e estado de conservação dos habitats que ocupa. Não obstante, a fragmentação e a redução significativa das suas populações, contribuem para que a toupeira-de-água se encontre cada vez mais em perigo de extinção.

Neste sentido será urgente uma base estratégica a longo-prazo na recuperação da Toupeira-de-água e dos seus habitats, com o objetivo de contrariar as tendências atuais e melhorar o estado de conservação desta espécie. Para tal, numa primeira fase será necessário e urgente identificar a(s) causa(s) que contribuem para a atual regressão, de modo a que numa segunda fase se possam adotar medidas específicas na mitigação das causas. 

domingo, 20 de março de 2011

Sorex granarius


Taxonomia:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Classe: Mammalia
Ordem: Insectivora
Família: Soricidae
Género: Sorex
Espécie: Sorex granarius
Nome comum: Musaranho-de-dentes-vermelhos
  
Identificação: Mamífero insectívoro, de aspecto e forma parecido com o rato doméstico, o seu focinho comprido que afunila bruscamente adquire uma forma cónica e provido de pêlos sensoriais, o desenvolvimento do sentido do tacto para a exploração e detecção de alimento fez com que a vista perde-se alguma funcionalidade. A sua pelagem é curta, densa e macia. Em Portugal os musaranhos separam-se entre os que têm os dentes brancos (Croccidura russula, Croccidura suaveolens e Suncus etruscus) e os que têm os dentes vermelhos (Sorex minutus, Sorex granarius e Neomys anomalus) além da coloração dos dentes as orelhas podem ser uma característica para os distinguir, visto que os que têm dentes brancos têm também as orelhas sobressaídas da pelagem.
Promenor da coloração vermelho dos dentes

Distribuição: O musaranho-de-dentes-vermelhos tem uma distribuição restrita a uma faixa litoral do Noroeste da Península Ibérica e no interior Centro às Serras de Gredos e Guadarrama. Em Espanha, está por confirmar a sua presença a norte do Sistema Central e em certos enclaves da Cordilheira Cantábrica. Em Portugal, ocorre a Norte do Tejo, nas zonas de clima atlântico.
Habitat: As áreas preferidas pelo Sorex granarius caracterizam-se por apresentar uma temperatura média anual entre os 3º e 15ºC, com Invernos frios ou extremamente frios, e com uma precipitação anual superior a 600mm, localizando-se em níveis bio-climáticos Supra ou Oromediterrânico, desde os 500 até aos 2000m de altitude. Esta espécie ocorre frequentemente em faiais, pinhais, carvalhais e sobreirais, assim como em zonas em que os bosques autóctones tenham sido substituídos por campos de cultivo ou bosques de Castanea sativa o Pinus pinaster. Acima do nível florestal, a espécie tem sido capturada em zonas de afloramento rochoso graníticos próximo de pastagens.
Reprodução: A reprodução ocorre na Primavera e Verão, o período de gestação é de 13-19 dias e o número de crias por ninhada varia entre 5 e 7. Os exemplares alcançam a maturidade sexual ao segundo ano de vida e raramente chegam a sobreviver mais do que 3 anos.
Alimentação: O musaranho-de-dentes-vermelhos tem uma dieta carnívora, constituída por invertebrados, entre os quais predominam os anelídeos, insectos, aracnídeos e moluscos.
Predadores: Os estudos demonstram que esta espécie faz parte frequentemente da dieta alimentar da Corruja-das-torres (Tyto alba), Corruja-do-mato (Strix aluco), da Gineta (Genetta genetta), da Raposa (Vulpes vulpes), da Fuinha (Martes foina), Gato-bravo (Felis silvestris), Gato doméstico (Felis catus) e da Víbora-cornuda (Vipera latastei).
Estatuto de conservação:
De acordo como o Livro Vermelho de Vertebrados de Portugal (LVVP), o Musaranho-de-dentes-vermelhos é um Endemismo Ibérico e está classificado como “Informação Insuficiente”.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Microtus lusitanicus




Taxonomia:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Classe: Mammalia
Ordem: Rodentia
Família: Cricetidae
Família: Arvicolinae
Género: Microtus
Espécie: Microtus lusitanicus
Nome comum: Rato-cego

Identificação: Espécie de pequeno tamanho (CC: 77,5-105,0 mm), com cauda, orelhas e patas curtas (C: 17,0-30,0 mm; O: 6,5-10,0 mm e P:13-16 mm) e pesando apenas 14,0 a 19 gramas.
A forma do seu corpo está perfeitamente adaptada à sua vida subterrânea, tem uma boca pequena com os incisivos superiores ligeiramente projectados para a frente. A coloração do seu dorso é cinzento (variando do escuro ao claro) que por vezes apresenta reflexos ocres nos flancos. A sua cauda é bicolor com a parte superior mais escura. Os dois pares de mamas estão localizados em posição inguinal. Cabeça alta e arredondada com uma fórmula dentária 1.0.0.3/1.0.0.3.
Espécies similares: Na Península Ibérica a espécie mais similar é o Microtus duodecimcostatus (Rato-cego-mediterrânico), mais robusto, e com cauda unicolor.
Distribuição: Presente no quadrante Noroeste da Península Ibérica e no extremo Sudoeste de França. Na Península Ibérica o limite Este da sua distribuição situa-se no Norte de Navarra e Huesca baixando para Sul pela Rioja, Soria e as serras de Gredos e Gata. Em Portugal penetra pela Serra da Estrela estendendo-se pelo norte e pelo sul até Setúbal.
Habitat:
Ocorre em habitats muito diversos, podendo ser observado em zonas naturais (margens de pequenos rios, florestas de castanheiros e carvalhos) ou agrícolas (plantações de batata, cenouras, arrozais e pomares), sendo que a sua ocorrência está muito condicionada à presença de solo pouco densos e húmidos e com uma densa cobertura vegetal.
Biologia: A organização social desta espécie é pouco conhecida, assim como as outras espécies deste género, o Rato-cego provavelmente organiza-se em pequenos grupos familiares, que inclui um casal reprodutor e jovens de várias idades. È um espécie escavadora que utiliza as patas dianteira e os dentes para fazer os túneis. O sistema de galerias consta de túneis superficiais (até 15 cm de profundidade), construídos para se alimentarem e fugirem rapidamente e um conjunto de túneis mais profundos (até 40 cn) onde estão localizadas as câmaras de armazenamento de alimento e os ninhos.
Reprodução: Este género pode ser afectada pelas condições climatéricas e de disponibilidade alimentar, mas em condições normais mantêm-se sexualmente activos durante todo o ano. As fêmeas atingem a maturidade sexual às cinco semanas de vida e os machos às sete. Têm um gestação de 22 a 24 dias, o número de crias varia de um a cinco, sendo que três crias é o número médio e mais frequente. As crias nascem desprovidas de pêlo e com os olhos fechados e pesam cerca de 1,5 gramas. O pêlo começa a aparecer ao fim de 3 dias e ao fim de duas semanas assemelham-se aos seu progenitores.
Alimentação: É uma espécie herbívora com uma dieta baseada em espécies geofítas. A selecção do tipo de alimentação depende principalmente do ciclo de crescimento da vegetação, sendo que no Inverno e Primavera, consome folhas e pequenos caules, já no Outono e Verão a sua dieta baseia-se em pequenos bolbos, sementes e pequenos tubérculos.
Longevidade: Têm uma longevidade máxima de 6 anos, vivendo em média 4 a 5 anos.
Curiosidades: Ocasionalmente, quando atinge elevadas densidades pode constituir uma praga para a agricultura, as culturas mais afectadas são as fruteiras e hortícolas.
Medidas de gestão: Quando esta espécie se torna uma praga nos meios agrícolas, a mobilização do solo e controlo da vegetação é uma medida muito eficaz para o controlo da população.
Medidas de conservação: É uma espécie abundante e com uma ampla distribuição ampla, pelo que até à data não se afigura necessária a implementação de medidas de conservação.
Estatuto de conservação:
De acordo como o Livro Vermelho de Vertebrados de Portugal (LVVP), o Rato-cego está classificado como “Pouco preocupante” (LC).
Referências e Sites:
Mira, A., Mathias, M.L. 2007. Microtus lusitanicus (Gerbe, 1879). In: Atlas y libro rojo de los mamíferos terrestres de España. Edited by L.J. Palomo, J. Gisbert, J.C. Blanco Ministerio de Medio Ambiente, Tragsa, Madrid. pp. 418-421.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Galemys pyrenaicus


Taxonomia:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Insectivora
Família: Talpidae
Género: Galemys
Espécie: Galemys pyrenaicus
Nome comum: Toupeira-de-água
A ideia mitológica que tenho da Toupeira-de-água não resulta apenas das poucas observações que tenho dela, mas também e em grande parte pelo seu habitat, sempre que penso nesta espécie vejo-a num curso de água fria, translúcida, barulhenta, inserida entre vegetação arbórea luxuriante de amieiros, freixos e salgueiros, onde os blocos de pedra granítica e os tufos de juncos fazem serpentear o curso de água.
Identificação: A Toupeira-de-água é um animal inconfundível, onde a sua tromba aplanada e sem pêlos se destaca de um corpo anafado. A sua cauda grossa e comprida é escamosa e de secção arredondada. Tem olhos muito pequenos e o seu aparelho auditivo não é visível. Tem pêlo comprido e liso de cor castanho ou cinzento-escuro, a parte ventral é mais clara. As suas patas posteriores são muito maiores do que as anteriores e adaptadas à natação com membranas interdigitais. O seu crânio é similar às restantes toupeiras onde se destaca os primeiros incisivos de grande tamanho e de forma triangulares. Tem um comprimento de corpo de 115-135 mm, cauda de 125-160 mm, um peso de 50-76 gramas e a sua fórmula dentária é 3:1:4:3/3:1:4:3
Espécies similares: Em Portugal não existem espécies passíveis de serem confundidas com a Galemys pyrenaicus.
Distribuição: Esta espécie é um endemismo Ibérico, sendo que a sua área de distribuição restringe-se ao Norte e Centro da Península Ibérica e Pirenéus.
Habitat: Vive em cursos de água montanhosos de corrente forte, fria, límpidas e oxigenadas de profundidade reduzida e com um caudal regular durante todo o ano, cursos de água de características lóticas, geralmente classificados como pertencentes à zona salmonícola e de transição salmonícola-ciprinícola. A toupeira-de-água está estritamente dependente do corredor aquático e ripícola, no qual realiza todas as suas actividades vitais.
Biologia: Durante a Primavera, em plena época reprodutora, vivem aos pares ou isolados, sendo que o “home-range” médio dos machos é de 400 metros e das fêmeas de 300 metro, evitando a sobreposição de áreas com outros casais contíguos. Os machos permanecem mais tempo nos limites dos territórios, sendo que as fêmeas utilizam todo o território de um forma mais regular. Estudos recentes revelaram dispersões máximas de 2,7 km durante um único ciclo anual. A razão sexual é de 1:1 e é frequente existir descontinuidade entre populações, mesmo sem existir alteração significativa de habitat. É uma espécie que tem a sua actividade principalmente durante a noite.
Reprodução: O período de cio desta espécie é entre Janeiro e Maio e os partos dão-se de Março a Julho. O número de crias varia de um a cinco, sendo que o número mais frequente é de quatro crias por ninhada, podendo ter mais que uma criação por ano. A maturidade sexual só é atingida entre os seis meses e o ano de vida.
Alimentação: De hábitos maioritariamente nocturnos, a Toupeira-de-água passa a maior parte dos seus períodos de actividade procurando alimento no leito dos cursos de água. Alimenta-se quase exclusivamente de macroinvertebrados aquáticos bentónicos, maioritariamente tricópteros, plecópteros, efemerópteros e dípteros, revelando uma elevada especialização alimentar
Longevidade: A esperança média de vida desta espécie é estimada em três ou quatro anos
Curiosidades: Quando em repouso, procura abrigos nas margens, por exemplo em cavidades nas rochas, espaços entre raízes, etc.
Ameaças: A principal ameaça é a acção directa ou indirecta sobre a morfologia do curso de água, a estrutura do leito e margens, o regime hidrológico e a qualidade da água resultando na alteração da disponibilidade de alimento (essencialmente os macroinvertebrados aquáticos bentónicos) e de abrigos. Algumas espécies como a Lutra lutra, a Ardea cinerea, a Ciconia ciconia, o Nycticorax nycticorax, o Esox lucius ou mesmo a Tyto alba podem predar esta espécie, provocando uma redução significativa dos efectivos populacionais.
Medidas de conservação: Executar uma política de gestão dos cursos de água e implementar medidas de recuperação dos habitats da espécie, são duas medidas de conservação urgentes para esta espécie.
Estatuto de conservação:
Esta espécie possui estatuto de protecção (encontra-se incluída nos Anexos II e IV da Directiva Europeia dos Habitats) e tem a categoria de “Vulnerável” a nível nacional no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (LVVP) (Cabral et al., 2005) e a nível internacional na IUCN Red List of Threatened Species (UICN Red List).
Referências e Sites:
Cabral MJ (coord.), Almeida J, Almeida PR, Dellinger T, Ferrand de Almeida N, Oliveira ME, Palmeirim JM, Queiroz AI, Rogado L & Santos-Reis M (eds.) (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza. Lisboa. 660 pp.

domingo, 18 de abril de 2010

Talpa occidentalis

Taxonomia:

Reino: Animalia

Filo: Chordata

Subfilo: Vertebrata

Classe: Mammalia

Ordem: Insectivora

Família: Talpidae

Género: Talpa

Espécie: Talpa occidentalis

Nome comum: Toupeira


As recordações mais antigas que tenho desta espécie, são do tempo que passei a percorrer os canais de rega à procura dos teus túneis (uma verdadeira dor de cabeça para quem regava, pois, os túneis desta espécie são capazes de desviar toda a água de um rego-da-pé) em quanto o meu pai regava o milho e as batatas, e as armadilhas que o meu avô colocava na horta para apanhar este bicharoco.

Mais recentemente, este ano, enquanto regressava de mais um dia de campo, tropecei numa toupeira que estava algo tonta no meio da estrada, lá encostei o carro para tirar o bicho da estrada e coloca-lo em local mais seguro, coisa que não consegui fazer sem levar uma valente dentada… coisas do ofício….

Identificação: As toupeiras são os únicos mamíferos europeus com vida tipicamente hipógea, à qual se adaptaram de uma forma muito eficaz, podendo passar debaixo da terra longos períodos, sem necessidade de ter que sair à superfície, que normalmente apenas o fazem em três tipos de situações: para beber no tempo de estio, durante a dispersão dos juvenis e na época de reprodução para a procura de parceiro(a).

A família das toupeiras distribui-se pela Europa e Norte da América, com 3 sub-famílias, 12 géneros e 31 espécie, das quais duas ocorrem na Península Ibérica: a Talpa europaeus (Linnaeus, 1758) e a Talpa occientalis (Cabrera, 1907), sendo que apenas a última tem distribuição no nosso território.

De corpo cilíndrico e compacto, esta espécie está dotada de umas patas posteriores poderosas, com uma orientação para o exterior de modo a facilitar a sua actividade escavadora. A sua pelagem é muito densa, geralmente de cor negra, contudo, por vezes também podem apresentar tonalidades prateadas, avermelhadas ou mesmo violeta.

O tacto é o sentido mais desenvolvido da toupeira, particularmente na ponta do seu focinho, no qual se encontram uns pêlos sensoriais chamados de vibrissas, que movem constantemente para detectar as suas presas. Muito embora o olfacto e o ouvido também sejam funcionais nesta espécie, este sentidos, não estão muito desenvolvidos, enquanto que a visão é um sentido que por não o utilizar, está atrofiado.

Espécies similares: Em Portugal não existem espécies similares ou que possam ser confundidas com estas.

Distribuição: Esta espécie é um endemismo ibérico, e é comum no nosso país, apresenta uma distribuição amplia de Norte a Sul de Portugal.

Habitat: Esta é uma espécie bastante ubíqua, podendo ser encontradas em qual tipo de habitat desde que o solo seja idóneo para a sua actividade escavadora.

Biologia: A sua actividade escavadora não cessa e as galerias que conduzem à cavidade onde se encontra o ninho, vai sendo cada vez maior. As galerias têm uma dimensão média de 5cm de largura e 4cm de altura, podendo somar mais de 150 metros de comprimento, contudo o comprimento médio das galerias é de 40-50 metros. A toupeira não é um animal social, quando se cruza ocasionalmente com um congénere, são disputadas ferozes lutas, durante a época do cio, estas, podem originam muitas vezes na morte de um dos envolvidos.

Reprodução: O macho da toupeira está activo antes da fêmea, o que ocorre normalmente entre Dezembro e Janeiro, a cópula acontece geralmente em Fevereiro e Março. Após uma gestão de 4 a 6 semanas, nascem 3 -5 crias nuas que pesam apenas 3,5 gramas. Os partos ocorrem numa cavidade no subsolo onde se encontra o ninho que é de forma quase esférica, podendo no máximo alcançar os 150cm de largura e os 50cm de altura, com paredes muito lisas, o ninho é composto por folhas, raízes e erva seca, onde coloca no seu interior as suas crias. Estas, são amamentadas durante 28 ou 35 dias, após este período começam a alimentar-se sozinhas.

Alimentação: A sua alimentação é baseada sobretudo em minhocas, que podem constituir 90 a 100% da sua dieta no Inverno, percentagem que baixa para 50% no Verão, esta espécie complementa o seu regime alimentar com pequenos repteis e roedores, ao qual adiciona raízes, tubérculos assim com alguns frutos

Longevidade: Atingem a maturidade sexual entre os 6 e 12 meses, e podem atingir os 5 anos de idade, contudo o normal é não superarem os 3 anos de vida.

Curiosidades: A toupeira tem um metabolismo muito elevado, o que o obriga a consumir elevadas quantidades de alimento, por dia é capaz de comer o equivalente a 50 ou 100% do seu peso (imaginem ter que comer diariamente pelo menos metade do vosso peso!!!!). Esta espécie, se estiver mais de 24 horas sem comer morre, alguns autores referem que as fatalidades podem ocorrer a partir das 10 ou 12 horas sem se alimentar.

Ameaças: Devido à sua actividade hipógea, raramente são incluídos na dieta de outros animais, contudo podem ser consumidos por texugos, raposas e rapinas nocturnas. O homem é considerado o principal inimigo natural e histórico, que vê nesta espécie, um indesejável visitante dos seus campos.

Estatuto de conservação:

De acordo como o Livro Vermelho de Vertebrados de Portugal (LVVP), a toupeira é um Endemismo Ibérico e está classificado como “Pouco preocupante”.