O
visão-americano (Mustela vison) é uma
espécie assilvestrada na Europa; a sua presença em Portugal deve-se sobretudo
ao crescimento das populações da Galiza, originárias de fugas de indivíduos em
cativeiro, em explorações de criação de visão para produção de peles. Essas
fugas foram tanto acidentais, provocadas também por fenómenos climáticos
extremos como algumas cheias nos anos 80 (1), como intencionais, na sequência
da ação de supostos grupos de defesa dos animais, nas décadas de 1990 e 2000. A
Galiza era no início da década de 1980 a principal região produtora de peles de
visão de Espanha, com cerca de 80% do total de fêmeas reprodutoras em cativeiro
(1).
A
primeira referência à espécie em estado selvagem na Galiza, data dos anos 70
(1, 2), sendo que cerca de 1985 havia já diferentes populações estabelecidas em
várias bacias hidrográficas, com destaque para a bacia do rio Minho (1, 3). Em
Portugal, ainda que a bibliografia faça referências à sua presença sobretudo no
litoral (rios Minho, Coura e Lima) (4), o facto é que existem outras populações
identificadas, nomeadamente no vale dos rios Tâmega e mais recentemente Cávado. É
uma espécie muito associada aos meios aquáticos, mesmo os de pequena dimensão,
tendo uma boa capacidade de adaptação também a águas contaminadas. O seu
comportamento oportunista levou a registos de ataques a animais domésticos
(galinhas e coelhos), ainda que no estado selvagem tenha uma alimentação
variada, com predominância na predação de aves, peixes, anfíbios e até
micromamíferos (1, 2). A sua capacidade de adaptação é também revelada pela sua
presença em meios com habitats ripícolas mais degradados, como seja junto aos
meios urbanos.
A provar isso mesmo, são as observações frequentes no rio Tâmega
perto da cidade de Chaves e até em locais mais a Sul afastados dos cursos de
água, por exemplo. No vale do Tâmega as nossas primeiras observações datam de
2007, nas lagoas do Tâmega, zona húmida próxima da fronteira com Espanha. Nos
últimos anos têm sido documentadas inúmeras observações (inclusivamente de
vários indivíduos juntos -até 6-, o que sugere uma população residente e
reprodutora), a maioria das quais curiosamente em pleno dia. Este aspeto parece
demonstrar um comportamento confiante e totalmente adaptado e sem evidências de
grande pressão, seja pela perseguição do Homem, seja pela concorrência de
outros mustelídeos, nomeadamente a lontra. Ainda
que alguns autores considerem a sua expansão relativamente lenta, talvez pela
competição da lontra (2, 5), a sua expansão é prevista para a grande parte do
Norte de Península Ibérica (6).
Fotos de Miguel Colmonero e Marco Fachada
Texto da autoria de Marco Fachada
Texto da autoria de Marco Fachada
(1) SGHN,
1995. Atlas de vertebrados da Galiza.
Tomo I, Peixes, Anfíbios, Réptiles e Mamíferos. Sociedade Galega de
História Natural. Edición Consello da Cultura Galega, Santiago de Compostela,
327 p.
(2) Castells, A. &
Mayo, M., 1993. Guía de los mamíferos en libertad
de España y Portugal. Ediciónes Pirámide, Madrid. 470 p.
(3) Mathias,
M. (coord.), 1999. Guia dos mamíferos
terrestres de Portugal Continental, Açores e Madeira. Instituto de
Conservação da Natureza/Centro de Biologia Ambiental da Universidade de Lisboa,
Lisboa. 199 p.
(4) Cabral,
M.J. (coord.); J. Almeida, P.R. Almeida, T. Delliger, N. Ferrand de Almeida,
M.E. Oliveira, J.M. Palmeirim, A.I. Queirós, L. Rogado, M. Santos-Reis (eds.),
2005. Livro Vermelho dos Vertebrados de
Portugal. Instituto da Conservação da Natureza. Lisboa. 659p.
(5) GEIB,
2006. TOP 20: Las 20 especies exóticas
invasoras más dañinas presentes en España. GEIB - Grupo Especialista en Invasiones Biológicas, Serie Técnica N.2. 116
p.
(6) IHOBE, 2009. Diagnosis de la Fauna Exótica Invasora de la
Comunidade Autónoma Vasca. IHOBE, Sociedad Pública del Departamento de
Medio Ambiente y Ordenación del Territorio del Gobierno Vasco. Bilbao. 165 p.
Sem comentários:
Enviar um comentário