Foi já no mês de Outubro que, no final de mais um dia de
campo, me deparei com um acontecimento que nunca antes tinha testemunhado. Pelo
menos não com estas duas espécies…
No meio do caminho estavam duas espécies de répteis que, à
primeira vista, pareciam estar tranquilamente a apanhar os últimos raios de sol
desse dia. Nesse momento não tinha a noção de que algo de muito mais
“interactivo” estaria para acontecer.
Vamos conhecer os protagonistas. De um lado estava um sardão
Timon lepidus a maior
espécie de lagarto da península ibérica que, segundo alguma bibliografia, pode
atingir os 80cm (a cauda pode ser bastante grande). Esta espécie prefere
habitats com alguma vegetação arbustiva com boa exposição solar e alimenta-se
maioritariamente de insectos como escaravelhos ou gafanhotos. O indivíduo que
tinha à minha frente tinha um pouco mais de 20 centímetros e parecia bastante
descontraído a apanhar sol.
Um pouco mais ao lado, no meio do caminho
estava uma cobra-de-ferradura Hemorrhois
hippocrepis. Esta espécie também pode atingir grandes dimensões e tem fama
de ser um pouco agressiva para com os seus captores (não se pode censurar!). A
cobra-de-ferradura apresenta uma coloração característica com vários círculos
escuros delimitados por uma banda mais clara, embora este exemplar não
apresentasse a coloração mais típica. É uma espécie não venenosa e que se
alimenta de aves e répteis que procura activamente usando a sua agilidade e
rapidez.
Ora nem mais, eis que a cobra-de-ferradura se
aproxima do impávido e sereno sardão e abre as hostilidades com uma "mordidela"
na cabeça.
Na altura, e não conhecendo bem as capacidades de deglutição desta
cobra, pareceu-me que ela tinha “mais olhos que barriga” já que o sardão me
parecia demasiado grande para que ela o pudesse comer. Dentro de alguns minutos
percebi que estava enganado, o sardão tinha o tamanho ideal para uma boa
refeição antes do período de hibernação. Após a primeira “trinca” a cobra já
não voltou a largar o lagarto e começou imediatamente a ingerir a sua presa
que, até então tinha dado pouca luta. Fiquei impressionado com a capacidade da
cobra deslocar as mandíbulas e conseguir engolir uma presa tão grande.
Já
demasiado tarde o sardão se terá apercebido de que a cobra não tinha “boas
intenções” já que só começou a debater-se já a refeição ia a meio.
Ainda tentou
usar os seus poderosos membros posteriores para se livrar de ser comido mas sem
sucesso, a cobra-de-ferradura só pareceu ter alguma dificuldade quando chegou a
vez de engolir os membros anteriores onde o volume corporal do lagarto é um
pouco maior.
Com a refeição terminada, as mandíbulas reposicionadas, com um
grande volume no estômago (só me fazia lembrar a serpente do “Principezinho”) e
com o dia a terminar lá foi a cobra encontrar um local para pernoitar ou quem
sabe passar o inverno.
4 comentários:
Fantástico!
Surpreendente..
.
Que sorte tiveste!
Eu já tinha visto este post brutal em tempos. E pelo que li dos comportamentos e caraterísitcas da espécie faz sentido com o que presenciei. Excelente trepadora, emitia uns barulhos (parecia que bufava) e adotou uma postura agressiva. Já agora partilhei aqui:
http://bucolico-anonimo.blogspot.com/2016/01/cobra-no-botanico-do-castelo.html
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