domingo, 24 de novembro de 2013

WebSIG II



O Sistema de Informação Geográfico em plataforma Web (WebSIG) do nosso bolg esta á cada vez mais composto. Neste momento contamos com mais de 3500 registos distribuídos por 89 quadriculas 10X10Km.


Dados de distribuição de Pipistrellus pipistrellus

O principal objetivo deste WebSIG é permitir aos nossos leitores mais interessados neste grupo faunístico, ter um acesso rápido e fácil à informação, assim como oferecer um sistema de mapas dinâmicos e funcionais para navegar e consultar sobre a distribuição das diferentes espécies por nós registadas.

Para isso basta selecionarem a espécie através do “scroll” que está de baixo da entrada “Mapa de Observações de Morcegos” na barra lateral deste Blog.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Campo de Trabalho Científico - Courel 2012

 
Após a organização e participação dos Campos de Trabalho Científico (CTC) de 2003 (Alvão) e 2009 (Serra da Estrela), no início do ano de 2012 fui contactado pela Sociedade de Mamalogia Holandesa (SMH), pois tinham interesse em realizar outro CTC na Península Ibérica, de preferência no norte de Portugal ou na Galiza. Neste sentido pus a SHM em contacto o meu amigo Roberto Hermida, que em conjunto com a SHM, organizaram este CTC. Assim o Campo de Trabalho Científico de 2012 foi realizado entre o dia 24 de julho até 03 de agosto na Serra do Courel, província de Lugo (Galiza), no qual participaram 17 pessoas. 
O trabalho foi focado principalmente na metade oriental da área de estudo e foram utilizadas técnicas e metodologia diversas, com o objetivo de recolher o máximo de informação possível. Um dos objetivos mais importantes foi o de determinar a presença da Toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus) nas diversas bacias hidrográficas da região. A armadilhagem através da instalação de nassas levou á captura da primeira Toupeira-de-água na primeira noite, ao qual seguiram mais 3 capturas ao longo do CTC em duas bacias hidrográficas diferentes.
 Eliomys quercinus


Outra atividade importante foi a captura de morcegos através da instalação de redes de neblina em diversos biótopos. Através deste metodologia foi possível capturar onze espécie diferentes, entre os quais o Myotis spA (agora Myotis latipennis) cuja ocorrência ainda não havia sido dada para a área de estudo e o raro Myotis alcathoe. A pesquisa de casa abandonada permitiu ainda a observação de Morcego-de.ferradura-pequeno (Rhinolophus hipposideros), Morcego-orelhudo-cinzento (Plecotus austriacus) e morcego-lanudo (Myotis emarginatus). De realçar a colónia de 52 Pipistrellus pipistrellus que se alojava na casa (refúgio de montanhismo) onde ficamos alojados durante o CTC.
 Chionomys nivalis
  
Durante o dia a maior parte das observações foram de Raposa (Vulpes vulpes), Texugo (Meles meles), Javali (Sus scrofa) e Corço (Capreolus capreolus), a presença de Gineta (Genetta genetta) e Lontra (Lutra lutra) foi feita através de indícios de presença. Um dos pontos altos deste CTC foi a confirmação da presença de uma alcateia constituída por 10 Lobos (Canis lupus signatus) e a descoberta do seu “rendevouz site”, onde foi possível observar as crias do ano a alimentarem-se assim como o resto da alcateia. A proximidade da área vital desta alcateia com a nossa casa, eram tão pequena que era possível ouvir regularmente durante a noite os uivos dos lobos!
 6 da manhã, esperando pelos lobos!

Apesar de uma elevada diversidade de biótopos na área de estudo a armadilha de micromamíferos resultou em poucas capturas, contudo contou com algumas espécies interessantes tais como Musaranho-de-dentes-vermelhos (Sorex granarius), Chionomys nivalis, Apodemus flavicollis e o Leirão (Elyomis quercinus). Além dos registos feitos através de armadilhagem, foram recolhidas egagropilas de Corruja-das-torres (Tyto alba) que permitiu confirmar doze espécie de micromamíferos.
A armadilhagem fotográfica permitiu a confirmação de espécie como a Marta (Martes martes) e o Corço, Javali, Raposa e lobo.
Outro ponto alto deste CTC foi a excursão realizada à Serra dos Ancares para observar a Lebre-cantábrica (Lepus castroviejoi) que foi facilmente observada durante a noite.
 habiat da Lepus castroviejoi
  
Ao todo, tendo em conta todos os métodos utilizados foi possível confirmar a presença de 43 espécie de mamíferos para a área de estudo!



Para os mais interessados o relatório pode ser descarregado AQUÍ

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Uns apontamentos sobre “swarming” de morcegos




Os morcegos pertencem a uma das ordens de mamíferos mais diversa. Muitas espécies necessitam de abrigos subterrâneos para a sua sobrevivência e a perturbação e destruição destes refúgios constitui uma das principais causas de declínio de muitas populações de morcegos. Tendo em conta que o conhecimento da bio-ecologia e distribuição dos morcegos em Portugal é limitada e incompleto, a identificação dos abrigos, o seu estudo e proteção constitui uma questão vital para a conservação deste grupo faunístico.
No hemisfério Norte, no final do Verão e início do Outono, um número considerado de espécies de morcegos reúnem-se em refúgios/abrigos subterrâneos, onde caçam (dentro e no seu entorno), têm comportamento de voo particulares, emitem vocalizações sociais e têm comportamentos de acasalamento. Este fenómeno foi inicialmente descrito nos anos 60’s e definido como “swarming”. Desde então, na Europa tem-se realizado muitos estudos sobre o comportamento e genética nos sítios “swarming”, que têm demonstrado que:
1) São sítios de acasalamento de muitas espécies e são refúgios crípticos para o fluxo genético entre populações mais isoladas, prevenindo assim a endogamia populacional;
2) Estes locais podem constituir zonas de refúgio transitório durante as migrações regionais e sazonais;
3) Estes locais, constituem sítios adequados para a transmissão de informação entre adultos e jovens. 
Estas 3 hipóteses funcionais dos sítios “swarming” não são mutuamente excludentes, podem funcionar conjuntamente e são diferentes de espécie para espécie. Alguns estudos foram realizados com o objetivo de estudar diferentes aspetos do “swarming”, como a riqueza e abundância de espécies, a estrutura sexual, a condição física dos macho e fêmeas, etc… Duas características constantes em todos os estudos de “swarming” são a estrutura sexual e etária, a proporção de machos e adultos nestes sítios é habitualmente muito elevada e está correlacionada positivamente com a altitude (localização do abrigo/refúgio). Embora os primeiros estudos sobre “swarming” sejam de longa data (com cerca de 50 anos), os dados de comportamento de algumas espécies, em época de “swarming”, são ainda muito escassos.
A proteção eficiente de abrigos de morcegos deve incidir sobre todos os refúgios utilizados durante todo o ciclo anual (reprodução, acasalamento, migração e hibernação), deste modo os sítios “swarming” representam abrigos importantes de conservação para os morcegos.


A composição sexual e a distribuição temporal ao longo das noites nos sítios “swarming” não são sincronizadas, existindo dois pico claramente distintos, um para cada um dos sexos. Os machos são os primeiros a chegarem a este tipo de sítios, muito devido ao caracter territorial que estes apresentam na época de acasalamento. Quanto mais cedo chegarem a estes sítios melhor é a posição que podem ocupar e consequentemente, maior será a probabilidade de acasalamento. Já as fêmeas, como têm a possibilidade de escolher o macho para acasalar, passam as primeiras horas da noite (de maior atividade de insetos) a alimentar-se e só depois é que se deslocam para os sítios “swarming”. 


Este comportamento, aliado ao tempo gasto para no acasalamento pelos diferentes sexos faz com que a condição corporal dos machos e fêmeas seja diferente. Os machos permanecem muito mais tempo nos sítios “swarming” com o objetivo de acasalarem com o maior número de fêmeas possíveis e as fêmeas passam apenas o tempo necessário neste sítios para acasalar. De facto, os machos nesta época (de “swarming”) apresentam uma condição corporal significativamente inferior á das fêmeas.

domingo, 22 de setembro de 2013

Quem disse que os morcegos não vêen!




 Promenor dos olhos de um Morcego-arborícola-grande (Nyctalus noctula)

Os morcegos que existem na nossa fauna usam o sonar (ecolocalização) para navegar em ambientes escuros, outros mamíferos (incluindo morcegos frugívoros) e aves noturnas confiam em outros sentidos tais como a visão, o olfato ou a audição. Do ponto de vista evolutivo a ecolocalização é claramente mais recente do que a visão, sendo que a visão é capaz e transmitir muito mais informação por unidade de tempo do que a ecolocalização, além do que, a informação bio-sonar tem uma resolução angular muito menor em comparação com a informação visual. Alguns estudos demonstraram que os morcegos (os que usam ecolocalização) são capazes de “desligar” a ecolocalização quando têm luz suficiente para navegar. 

Promenor dos olhos de um Morcego-orelhudo-castanho (Plecotus auritus)

Sendo assim, porque é que a maioria dos morcegos (todos da nossa fauna), optaram pela ecolocalização durante o seu desenvolvimento evolutivo?

 Promenor dos olhos de um Morcego de bechstein (Myotis bechsteinii)

A ecolocalização é certamente vantajosa em relação à visão em ambientes extremamente escuros ou na ausência total de luz, como são os abrigos subterrâneos, contudo a maior pate dos morcegos costumam emergir dos sues abrigos imediatamente após o pôr-do-sol em níveis intermédios de luz (1-10 lux). A atividade alimentar dos nossos morcegos ocorre principalmente durante as primeiras horas da noite, onde a luz crepuscular ainda se faz sentir, que coincide como os picos de abundância de insetos. O grau de dependência que os morcegos têm da visão ou da combinação da visão e ecolocalização em ambientes de luz intermédia é mal conhecida, contudo os olhos dos morcegos que usam a ecolocalização (todos da nossa fauna), parecem conferir um maior desempenho sob ambiente e condições de luminosidade característicos do anoitecer.
Estudos recentes, sugerem que entre as duas modalidades sensoriais (visão e ecolocalização), a visão é mais vantajosa para a deteção de objetos de grandes dimensões (e.g. arribas, casa, arvores, etc…) e a ecolocalização é mais vantajosa para a deteção de pequenos objetos, tais como insetos, mesmo quando existe ainda alguma luz.

 Figura adapatada de Boonman et al., 2013