Corria o ano de 1892 quando foi
avistada a última Cabra-montês (subespécie Capra
pyrenaica lusitanica) na Serra do Gerês, cento e sete anos depois, em
Fevereiro de 1999 foi confirmado o regresso desta espécie ao território português.
O seu desaparecimento deveu-se muito provavelmente a uma má gestão cinegética e a caça
descontrolada acabou por eliminar o efectivo populacional português. Espanha
passou então a ter a exclusividade desta espécie, que nos dias que correm ainda é um troféu
de caça muito cobiçado. Uns anos mais tarde, o então presidente da república
portuguesa Américo Thomaz pediu, sem sucesso, a Franco alguns exemplares criados em cativeiro,
para reintrodução em Portugal.
Em 1992 a Junta da Galiza trouxe 4
machos e 8 fêmeas (desta vez da subespécie C.
pyrenaica victoriae) da Reserva Nacional de Caça das Batuecas em Salamanca,
para reintrodução da espécie no Parque Nacional de Invernadero. Em 1998 dezoito (5 machos e 11 fêmeas) dos 70 exemplares que constituíam esse grupo foram
transferidos para o Parque natural da Baixa Limia – Serra do Xurés, onde foram
colocados em Salgueiros, mesmo junto à fronteira com Portugal. Um casal que
posteriormente foi transferido para um cercado na Serra de Santa Eufémia, gerou
uma cria com sucesso e acabaram por fugir os 3 desse cercado. Foram estes
indivíduos que foram vistos em 1999 do lado português. Mais tarde fugiram
alguns exemplares do cercado de Salgueiros para a zona de Pitões das Júnias e
em 2000 e 2001 os responsáveis pelo parque galego libertaram 25 exemplares na
Serra do Xurés, que vieram incrementar a população selvagem.
Em 2008 estimava-se que a
população portuguesa contasse com aproximadamente 300 indivíduos e em 2012
rondasse os 450.
Na última incursão à Serra do
Gerês tivemos um encontro imediato com um fato de aproximadamente 80 descendentes
dos primeiros exemplares a regressar ao nosso país, que saltavam ligeiros e curiosos sobre os cabeços dos maciços graníticos. Nunca tínhamos visto tantos
indivíduos num só grupo. Aparentemente esta espécie, classificada como
Criticamente em Perigo em Portugal (por se estimar em 2006 que o seu efetivo
populacional é inferior a 50 indivíduos), veio para ficar.
Referências:
Cabral, M. J.
(coord.), Almeida, J., Almeida P. R., Dellinger, T., Ferrand de Almeida, N.,
Oliveira, M. E., Palmeirim, J. M., Queiroz, A. I., Rogado, L., Santos-Reis, M.
(Eds) (2006). Livro Vermelho dos
Vertebrados de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza. Lisboa. 660pp.