Víbora-cornuda fotografada na Serra de Montesinho. |
Quis a sorte que se tornasse na mais
malfadada espécie de Serpentes (e mesmo de Répteis) de Portugal. Odiada quer
pelo seu aspecto, quer pela sua mordedura (que pode ser prejudicial para o Homem), cobiçada pela sua cabeça, que pode servir como amuleto de boa sorte no lar e
pelo seu veneno, que serve os mais variados propósitos na medicina popular e na
bruxaria. Os inúmeros mitos e “lendas” de que é alvo fazem da Víbora-cornuda
uma das espécies mais emblemáticas da herpetofauna portuguesa.
Vipera latastei (Boscá, 1878)
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Família: Viperidae
Género: Vipera
Espécie: Vipera
latastei
Nome comum: Víbora-cornuda (Esp.- Vibira hocicuda, Ing. –
Lataste’s viper)
Morfologia:
È uma víbora de pequeno tamanho,
com corpo robusto e cauda curta, que pode atingir um máximo de 70 cm de
comprimento. O seu dorso é coberto por escamas carenadas. Uma das
características particulares do seu género é ter uma cabeça bem diferenciada do
corpo, de contorno triangular e com placas cefálicas muito fragmentadas. Esta
espécie distingue-se facilmente por ter a extremidade do focinho proeminente
(apêndice nasal), com 3 a 7 escamas (geralmente 5). A sua pupila é vertical e a
íris é amarela ou dourada. Possui também 2 a 3 séries de pequenas escamas
debaixo do olho.
A coloração de fundo do seu dorso varia entre o cinzento e o
castanho. O desenho é formado por uma banda dorsal escura disposta em ziguezague. Na
parte posterior da cabeça normalmente existem duas manchas escuras que formam
um “V” invertido. Os flancos podem apresentar manchas arredondadas escuras. O
ventre é de cor branca ou cinzenta com algumas manchas irregulares.
Foi
possível distinguir duas subespécies através de diferenças na morfologia
externa: Vipera l. latastei (presente
no Norte de Portugal até ao norte do rio Mondego e o Centro e Leste de Espanha,
descendo até à Serra Nevada) e Vipara l.
gaditana (Saint-Girons, 1977) (ocupando o Sudoeste da Península Ibérica e
extremo Norte de África de Marrocos à Argélia).
O dimorfismo sexual é pouco
acentuado, apresentando os machos uma cauda ligeiramente mais larga e mais
comprida, a seguir à cloaca, e uma coloração dorsal cinzenta, enquanto nas
fêmeas essa coloração é acastanhada. O aspecto e coloração dos juvenis são
semelhantes ao dos adultos embora as cores e desenhos nos juvenis possam ser
mais contrastados, devido às constantes mudas de pele. Os recém-nascidos medem
entre 15 e 20 cm de comprimento.
Espécies semelhantes:
A Víbora de Seoane (Vipera seoanei), distinguindo-se desta
por ter o focinho mais proeminente e a cabeça mais triangular. A
Cobra-de-água-viperina (Natrix maura)
que não tem as placas cefálicas subdivididas, a pupila vertical e o focinho
proeminente.
Biologia:
È uma espécie de hábitos diurnos,
podendo apresentar actividade crepuscular ou nocturna nos meses mais quentes. A
temperatura corporal necessária à actividade situa-se entre os 17 e 3ºC. A
duração do seu período de hibernação varia de acordo com a altitude e a
latitude. No final da época de reprodução, que tem início na Primavera e
termina no final do Verão, a fêmea dá à luz entre 5 a 8 crias, uma vez que se
trata de uma espécie ovovivípara. Pode também apresentar uma segunda época de
actividade reprodutiva no Outono (Setembro-Outubro). Pode atingir uma
longevidade de 9 anos, embora só atinja a maturidade sexual quando o
comprimento corporal ronda os 30 a 40 cm. A sua dieta baseia-se
maioritariamente em micromamíferos, mas pode capturar também outros répteis de
pequeno tamanho, pequenos anfíbios, passeriformes e insectos. Pode ser predada
por aves de rapina, mamíferos carnívoros e outras cobras de maior tamanho.
Embora opte geralmente pela fuga quando ameaçada, também pode soprar e morder.
Outra das características deste grupo de serpentes (Viperidae) é possuírem uma
dentição Selenoglifa, isto é, possuem um par de dentes inoculadores de veneno
situados na região anterior do maxilar superior. Produz um veneno com
características proteolíticas ou necrosantes, o que significa que provoca uma acção
citotóxica directa nos tecidos orgânicos e consequente destruição dos mesmos.
Os sintomas dependem de vários factores como o local da mordedura, a quantidade
de veneno injectado, o estado de saúde idade e condição física da pessoa
mordida. Assim pode ocorrer geralmente uma dor súbita, intensa e a formação de
um edema. Poderão surgir outros sinais como ansiedade, hipotensão, hipertermia,
dores abdominais, náuseas, vómitos, diarreia e alterações cardíacas. A morte
pode ocorrer no caso de as vítimas serem crianças ou idosos. Em caso de
mordedura o mais correcto é colocar a vítima em repouso e contactar o Centro de
Informação Antivenenos (CIAV) através do 112, e encaminhá-la para observação
médica.
Habitat:
Trata-se de uma espécie típica de
clima mediterrânico estando associada a zonas rochosas secas de montanha, com
cobertura arbustiva, mostrando preferência pelas vertentes mais expostas,
viradas a sul. Pode ocorrer também em zonas de menor altitude, em matagais,
áreas agrícolas, e clareiras de bosques de folhosas, coníferas e bosques mistos.
A altitude máxima registada em Portugal foi de 1500m nas Serras da Estrela e
Gerês, tendo sido registada a cerca de 2780m em Espanha.
Distribuição:
Esta espécie encontra-se no norte
de África, desde o norte de Marrocos ao norte da Algéria e extremo noroeste da
Tunísia. Acredita-se que está possivelmente extinta na Tunísia, uma vez que
neste país não foram registados quaisquer indivíduos nos últimos 55 anos. Na
Península Ibérica apresenta uma população fragmentada, mas está presente no
centro e sul de Espanha e em Portugal. Parece estar ausente nas zonas mais
humanizadas, de modo que os seus núcleos populacionais no nosso país se
encontram essencialmente nas serras da Peneda, Gerês, Alvão, Montesinho,
Caramulo, Buçaco, Montemuro, Estrela, Malcata, Serra d’Aire e Candeeiros,
Montejunto, Sintra, S. Mamede Ossa, Adiça, Barrancos, Monchique, Espinhaço de
Cão, península de Setúbal, margem esquerda do Guadiana, Douro Internacional e
outras populações litorais isoladas.
Conservação e ameaças:
A mortalidade por atropelamento e
a sua captura para coleccionismo são as principais causas da diminuição populacional
em Portugal. Mas a baixa mobilidade desta espécie e uma frequência reprodutora
trienal, contribuem também para uma fraca recuperação em zonas degradadas pela
pressão humana.
Referências e sites:
Brito, J. C. (2010): Vipera
latastei. Pp. 182-183, in: A. Ferrand de Almeida, N. Carretero, M. A. &
Apulo O. S. (coords.), “Atlas dos anfíbios e répteis de Portugal”.
Esfera do Caos Editores, Lisboa.
256 pp.
Almeida, Ferrand de N., Almeida,
Ferrand de P., Gonçalves, H., Sequeira, F., Teixeira, J., Almeida, Ferrand de
F. (2001). Anfíbios e Répteis de Portugal. Guias FAPAS. Porto. 249 pp.
1 comentário:
Hola, me gustaría incluir este ejemplar de Vipera latastei en mi web: www.viborasdelapeninsulaiberica.com si les parece bien.
Gracias,
Juan Timms (email: juantimms@hotmail.com)
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