domingo, 6 de março de 2011

Conta-me como foi

 
Subespécies da Capra pyrenaica, segundo Cabrera (1914):A: C. p. pyrenaica, B: C. p. victoriae, C: C. p. hispanica, D: C. p. lusitanica.

Esta semana tive a sorte de encontrar a relíquia de Ángel Cabrera de 1914 (Fauna Ibérica: Mamíferos), onde tem uma nota sobre a história do estudo de mamíferos da Península Ibérica, onde podemos ler o seguinte:

Os primeiros registos escritos dos mamíferos Ibéricos, foram feitos por um soldado, Gonzalo Argote de Molina, que em 1582 publicou o “Libro de la Monteria del Rey Alfonso XI de Castlha y León”, e por dois monteiros da Casa Real de Espanha: Alonso Martinez de Espinar, que desempenhou este cargo na corte de Felipe IV e escreveu a “Arte de ballesteria” (1644), e Agustín Clavo Pinto, monteiro de Fernando VI e autor de um tratado sobre “Modo de cazar todo género de aves y animales” (1754). Até à época dos dois primeiros, também Jerónimo de Huerta e Diego Funes, nas suas traduções das obras de Plínio e Aristóteles, respetivamente, fizeram frequentes alusões à nossa fauna. Os livros de estes autores não são realmente livros de história natural, mas sim tratados de caça, com descrições mais ou menos fiéis de muitos mamíferos que existiam na península Ibérica.

Com a sua “Introductio in Oryctographiam et Zoologiam Aragoniae”, na qual figura um catálogo dos mamíferos Aragoneses apresentado na forma Lineana, Ignacio Asso parece iniciar, em 1784 uma segunda época, que poderíamos chamar “As faunas locais”. De efeito, durante pouco mais de um século, os naturalistas Espanhóis e Portugueses, e alguns estrangeiros, ocuparam-se seriamente da mossa fauna mamalógica, estudando-a por províncias ou regiões, muitos casos apenas apresentem um catálogo detalhado mais ou menos descritivo das espécies observadas em determinado local. Assim, Juan Ramis (1814) e Francisco Barceló (1875) escreveram sobre os mamíferos das ilhas baleares; Alonso López (1852) e López Seone (1861-63) ocuparam-se dos da Galiza; Rosenhauer (1856) e Machado (1867), dos da Andaluzia; Graells (1852) e Cazurro (1894) dos que andavam pela província de Madrid, e finalmente Barboza du Bocage (1863) e Oliveira e Lopes Vieira (1896) os de Portugal.

Desgraçadamente, os autores Espanhóis deste período, fundamentaram os seus trabalhos na literatura Francesa e Alemã, escrevendo com o prejuízo de que os mamíferos por eles observados tratavam-se dos mesmos que existiam nos outros países. Mais assertivos os Lusitânicos, tiveram em Barboza du Bocage um Zoólogo que soube descrever para Portugal fauna peculiar, como por exemplo a sua “Notícia sobre os Arvicolas de Portugal” onde se indica que a Rata-de-água existente em Portugal não é a Arvicola amphibius e é descrita uma nova espécie, a Arvicola (=Microtus) rozianus (= Microtus agrestis).


José Vicente Barbosa du Bocage (Funchal, 1823 — Lisboa, 1907) foi um zoólogo e político português. Foi curador de zoologia do Museu de História Natural de Lisboa. Publicou extensa obra sobre mamíferos, aves e peixes. Na década de 1880 foi Ministro da Marinha e mais tarde Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal. Por decreto governamental de 10 de abril de 1905 a secção de zoologia do Museu Nacional de Lisboa foi nomeada como "Museu José Vicente Barbosa du Bocage" em sua honra. José Vicente era primo em segundo grau do poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805).

Sem comentários:

Enviar um comentário